sábado, 5 de dezembro de 2009

Pequeno relato de visita a São José do Norte



Cada vez que venho a Rio Grande, me apaixono mais pela minha área do saber humano, a História.
Esta regra também se aplica a uma cidade bem próxima, chamada São José do Norte, a qual já tive a oportunidade de visitar uma outra vez, onde apenas passei pelo seu centro e acabei por fazer um rápido lanche no restaurante Brisa Mar.
Agora, com um passeio mais direcionado e após uma rápida mas valiosa pesquisa no site da cidade, peguei os endereços dos pontos turísticos históricos e fui conferir como anda o tratamento do Patrimônio histórico e cultural da cidade de São José do Norte.

O primeiro local que pude avistar foi o busto do Almirante Tamandaré, também conhecido como Joaquim Marques Lisboa, nascido em Rio Grande e que foi um grande combatente em inúmeras guerras, sendo a mais importante a do Paraguai. Hoje é considerado o patrono da Marinha de Guerra do Brasil.



Após fui a procura da Biblioteca Municipal Delfina da Cunha, localizado na Rua 16 de Julho, número 369. Está estava infelizmente fechada.

Na sequencia me defrontei com três locais importantes, a Igreja Matriz, que passou vinte anos em construção, do ano de 1840-60 e conta com um claro estilo neoclássico/barroco e o altar construído em madeira talhada. No dia 2 de fevereiro é realizado a maior festa religiosa em louvor a Nossa Senhora dos Navegantes. Esta foto tirei diretamente do outro lado da rua, na Praça Intendente Francisco José Pereira, a Praça da Matriz.



Minha próxima parada foi o busto de Garibaldi, combatente da guerra Farroupilha ao qual dispensa maiores apresentações.




Minha ultima parada fica com a nota lamentável do dia. O museu histórico Farroupilha, local com peças raríssimas e documentos de inestimável valor, está fechado por tempo indeterminado, segundo um
um único voluntário, estudante de Turismo que disse que o museu agora dependia de caridade da comunidade para se manter. "As peças do museu resgatam a história da Revolução Farroupilha que, em São José do Norte, o conflito aconteceu em 16 de julho de 1840. Existe em exposição uma cadeira usada por D. Pedro II em 1845, quando esteve na cidade."(site da cidade -http://www.saojosedonorte-rs.com.br/museu.html). Um museu tão importante com as portas fechadas preocupa muito este simples estudante de História, que esperava um pouco mais de carinho com a memória desta cidade



Por fim, deixei outros dois pontos restantes, estes são:
Solar dos Imperadores - É um dos sobradões mais típicos e admirados, construído em 1800, onde se hospedaram D. Pedro I em 1826 e D. Pedro II em 1845. Este acabei não conferindo, porque minha barca estava para sair. Mas, está me intriga muito e numa próxima oportunidade vou desenvolver sobre a mesma.


Prédio da Intendencia - antiga prefeitura de São José do Norte, foi construído em 1898, atualmente está tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional e em processo de reforma. Está localizado na frente da nova sede e o seu restauro ainda é muito preliminar, parece ainda que a obra está parada a tempos. Acabei por não registrar uma foto, esperando um dia poder contemplar os leitores deste blog com a imagem do prédio restaurado.

Hoolingas! Cine-Fórum




Estava em Rio Grande, onde baixei o filme que havia ouvido falar num jornal televisivo esta semana. Se trata de "Hooligans".
Um filme interessantíssimo, estrelado por Elijah Wood, em tempos de véspera de Copa do Mundo cai como uma luva para a questão de onde inicia o amor ao país/clube de futebol e onde nasce um sentimento revanchista de selvageria, até onde pode ir o fanatismo esportivo?

O filme trata da história de um jovem estudante de jornalismo de Havard, chamado Matt Buckner (Elijah Wood), que acusado injustamente de ser usuário de cocaína, é expulso da Universidade.
Inconformado e desolado, ruma a Inglaterra, para rever a irmã que havia casado a alguns anos.
Na casa de sua irmã conhece Pete Dunhan (Charlie Hunnan), irmão do marido dela.
Este participa da fanática torcida do West Ham United, onde os integrante se confrontam diretamente com as demais torcidas que por sua vez, também tem um "braço rebelde", sendo a maior rival a do Millwall. O desfecho promete emocionar a todos os que vierem a assitir este grande filme que mostra a fundo a pratica do hooliganismo.

Hooliganismo referes-se a um comportamento destrutivo e desregrado, praticado em sua maioria na europa, em países como Alemanha, Inglaterra, Croácia, Polônia, Rússia. Costumam fazer ligações a partidos de direita (principalmente na Alemanha)e a grupos skinheads. Atualmente este grupo é proibido em vários países europeus. O problema de xenofobia também se liga ao hooliganismo, no Brasil os problemas se relacionam as torcidas organizadas de grande clubes, como Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Corinthians, Grêmio, Internacional, Vasco, Santos...

Ao fazer este post descobri que já saiu a continuação, Hooligans 2, onde retrata os mesmos hooligans dentro da cadeia, mas isto rende mais um cine-fórum...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Chacara das Rosas: Observações e um breve apontamento Histórico de um Quilombo urbano




Primeiramente, o grupo de pesquisa que foi ao evento teve como meta decorrer sobre um breve histórico a respeito do Quilombo Chácara das Rosas, de sua importância, de suas dificuldades, de sua titulação e reconhecimento, para compreender o contexto em que se realiza a titulação do Quilombo, que ocorre no dia 30 de outubro de 2009.
O objetivo deste trabalho era aproximar a questão do negro em estudo de História do Brasil, através do contato com a questão quilombola e fazer um link com os quilombos e amocambados da época colonial, refletindo sobre a importância destes não só como meios de resistência, mas como modos de ser e viver.
Através de pesquisa por meios midiáticos, como jornais e sítios da internet, buscamos o histórico do quilombo, bem como a divulgação da sua titulação, onde estivemos e registramos através de fotos e observações toda a importância do evento.

Origem do Quilombo
As origens de Chácara das Rosas nascem em um outro Quilombo, que fica na região de Gravataí, e ainda luta por sua titulação:

“A origem da comunidade de Chácara das Rosas remonta a um outro quilombo mais antigo, Manoel Barbosa. Rosa Barbosa de Jesus, fundadora de Chácara das Rosas, era uma das 12 filhas de Manoel Barbosa e Maria Luiza Paim de Andrade, fundadores do quilombo de Manoel Barbosa, localizado em Barro Vermelho, zona rural do municípiodeGravataí.
Manoel e sua esposa, Maria Luiza adquiriram terras em Gravataí nos últimos anos do século XIX. Na época, a escravidão já havia sido abolida e ambos eram ex-escravos. Manoel comprou terras de um antigo senhor de nome José Joaquim Barbosa e, de acordo com a antropóloga Vera Rodrigues e o historiador Vinícius Oliveira (2006), é bem provável que a venda de parte dessas terras tenha ocorrido após a ocupação do território, visando regularizar uma situação já existente. Maria Luiza ganhou o restante das terras de sua antiga senhora e madrinha de nome Isaura.”

Nascida no quilombo de Manoel Barbosa em 1908, Rosa Barbosa de Jesus, deixou seus familiares aos dezoito anos, quando se casou com João Maria Generício de Jesus e foi embora, mas os motivos são desconhecidos. Em 1952, após a morte do marido, fica encarregada de cuidar de seus 12 filhos e manter a produtividade de rosas, verduras e demais culturas cultivadas no local. As terras da chácara das Rosas, podem ter sido obtidas por meios de compra ou doação, com informações ainda contrastantes.
Alguns fatos marcam a história da Chácara das Rosas, um deles é a da horta de Tonho, filho do casal Rosa Barbosa de Jesus e João Maria Generício de Jesus e que deu continuidade às praticas agrícolas que mantinham o local economicamente ativo.
“Tinha eucalipto, tinha árvores frutífera, tinha muita árvore, árvore, árvore, tinha bergamota, tinha laranja, limão, de tudo que tu possa imaginar, mamão, melão, tinha rosa, tinha muita rosa, muita flor, muita flor, tinha canteiros de alface, tanto que o pai vendia assim, aipim, era plantação de aipim, o pai trabalhava a noite, durante o dia e a folga dele ele vendia, ele plantava para vender” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 79).


A Chácara das Rosas passou por um processo de urbanização, juntamente com o próprio município de Canoas, sendo que antes deste processo na própria cidade, o quilombo possuía várias casas esparsas, uma cachoeira entre outras partes que foram aos poucos se espremendo ou desaparecendo.

Isabel Cristina Generício, neta de Rosa e João:
“(...) Eu notei que tinha se avançado assim e o nosso espaço parece que tava meio que diminuindo, eu tinha uns 9, 10 anos. Aí que eu senti a diferença, parece um impacto que deu, uma avalanche, né? Foi bem ligeirinho, foi bem ligeiro, com certeza que é ali no período da minha infância e aquilo foi indo, tu sabe que dava para ti tocar, mais ou menos, tinha um valão aberto aqui, um valão aberto, ali não era valão, era uma cachoeira, a gente tomava banho, água limpinha, aí logo depois teve a invasão da Guajuviras, tinha, quantos anos eu tinha quando deu a invasão da Guajuviras? Acho que uns 15 anos eu acho, daí começou a poluir tudo, o valão começou a poluir, não tinha mais cachoeira (...). É, a evolução foi muito rápida, muito rápida, muito rápida, foi nessa época aí, eu tava com uns 13, 14 anos. Sabe assim, quando o mundo vem com uma rapidez em cima assim, duma cidade que simplesmente, uma caretice, porque interior, sabe? Tanto é que eu até perdi um pouco o sotaque de Canoas” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 100).


Outro ponto relevante é a questão do espaço da religião dentro do quilombo. Na suas origens o catolicismo era predominante, mas tinha clara a presença do curandeiro e da bezendeira. Hoje temos ainda a divisão em evangélicos e religiões de matriz afro-brasileira. A casa de nação “Reino de pai Ogum”, é local da pratica do batuque, religião que existe no RS desde o século XIX.

“A estruturação do Batuque no estado do Rio Grande do Sul deu-se no início do século XIX, entre os anos de 1833 e 1859 (CORREA, 1988a: 69). Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados na região de Rio Grande e Pelotas. (...) Os rituais do Batuque seguem fundamentados, principalmente das raízes da nação Ijexá, proveniente da Nigéria, e dá lastro as outras nações como o Jejê do Daomé, hoje Benim, Cabinda (enclave angolano) e Oyó, também, na região da Nigéria. O Batuque surgiu como diversas religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil, tem as suas raízes na África, tendo sido criado e adaptado pelos negros na escravidão” (Wikipédia apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 87-8).
E segundo o coordenador da casa

“Nós temos um lado da Cabinda o qual eu vou pro chão, faço festa, faço mesa pras crianças. (...) É bonito, é bonito, quando tu vem, não tem nada de diferente, tu corta uns bichos que o sacrifício pros Orixás, uma coisa que veio da África, que a gente segue daí, faz uma mesa linda pras crianças, recebe os convidados, os outros irmãos que também vêm da religião. O que tem de mal nisso? Não tem nada! Toca um batuque, começou, acabou, no final aquela comilança, aquela alegria (...) Eu adoro, quando é pra ver o fervo, criançada e faz mesa lá dentro, as gurias correndo aqui, se empenham naquilo. Eu não vejo nada de mal!” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 88).



O processo de reivindicação está sendo promovido desde meados dos anos 2000, tendo como objetivo a titulação dos 3.619,44 metros quadrados de seu território. Em 2005, o Incra regulariza a fundição do local e em fevereiro de 2008, o relatório técnico é publicado e agora era questão de tempo para a Titulação. Hoje, localiza-se no bairro de classe média alta de Canoas, Marechal Rondon.
O nome da comunidade decorre de uma prática muito valorizada entre seus moradores: o cultivo de rosas. Rosa Maria de Jesus, fundadora do quilombo, gostava muito de plantar roseiras. No passado, as rosas embelezavam o território da família e sua comercialização foi mais uma fonte de renda para os quilombolas de lá.


Observações sobre a titulação


Os graduandos de História do centro Universitário Unilasalle, Felipe Contri, Luis Fernando e Sergio Marques foram ao evento de titulação do Quilombo Chácara das Rosas, primeiramente para prestigiar as importâncias deste evento para consciência negra e para a comunidade quilombola e em segundo lugar para aprofundar os conhecimentos já adquiridos nas aulas da disciplina de Brasil I, ministrados pela Professora Elsa Avancini, que tem uma ampla pesquisa vinculada ao mestrado em Memoria Social e Bens Culturais da própria Faculdade. Ao primeiro momento que chegamos na escola onde a titulação ocorreu percebemos um sentimento de extrema alegria e felicidade dos moradores, mas principalmente o de justiça. O evento contou com a participação das 24 famílias descendentes de Manoel Barbosa, negro que lutou na Guerra do Paraguai e que residiu no Quilombo Chácara das Rosas. Para o presidente do Incra Rolf Hackbart “A titulação é a carteira de identidade da terra. Sem ela, não se realiza a conquista de outras políticas”. Algumas famílias ainda estão cadastradas no projeto Minha casa, minha vida do governo federal e ainda vão receber moradias novas. O evento contou com inúmeras outras comunidades que vieram e inclusive demoraram a achar o acesso ao local. Por fim, gostaríamos de ressaltar que este trabalho teve mais basicamente elucidar o valor deste marco para a História Canoense e gaúcha, bem como para a História afro-brasileira. Foi o reconhecimento de uma realidade existente, foi o “desabrochar” de uma rosa que ansiava por ver pela primeira vez o sol, sentir o calor e a energia deste e um quem sabe um dia dar origem a belos frutos.







Referências:
Canoas: para lembrar quem somos (livro Vinculado ao Mestrado MSBC)
http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/brasil/rs/rs_quilombosurbanos_chacaradasrosas.html
http://www.cpisp.org.br/terras/
http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias-do-site/indios-e-minorias/mpf-rs-comunidade-de-chacara-das-rosas-pode-se-tornar-primeiro-quilombo-urbano-do-brasil/
Diário de canoas, consultado dia 31 de outubro de 2009.