sábado, 7 de fevereiro de 2009

Estado-Nação: Dificuldades da América




A questão identidade nacional foi um caso complicado tanto na formação dos Estados sul-americanos, quanto na dos EUA. Para se ter idéia disso, voltemos à análise para como eram as situações anteriores à chegada do europeu na América. Na América do Sul e Central tínhamos povos sedentários, que formaram impérios como os Incas (Peru/Bolívia), e Astecas (México/yucatán), e por povos menos “organizados” também, que viviam de coleta, pesca e formas bem simples de sobrevivência. Já na América do Norte, tínhamos várias tribos na maioria nômades, que caçavam bisões, animais desconhecidos dos europeus.
A América tem como data oficial de descoberta 1492, quando Colombo chega e logo funda a colônia de Natividade, em uma região próxima ao atual Bahamas. Mas, para se ter idéia a Inglaterra somente em 1607 consegue sucesso com a implantação da colônia de Virginia, em homenagem a Elizabeth I, a rainha virgem. Antes foi uma sucessão de pequenas expedições e tentativas fracassadas. Na América do Sul, os mais ilustres do Reino de Espanha e de Portugal são enviados em função de colonizar e explorar o Novo Mundo.
Já na América do Norte, somente o resto humano foi mandado para as treze colônias, que ali surgiram, puritanos, vagabundos, camponeses, entre outros excluídos das altas camadas da coroa inglesa. Outra diferença relevante era o apoio, ou pelo menos o interesse das coroas, já que as colônias inglesas possuíam tal descaso que por isso mesmo, teve maior autonomia. Mas, tanto em América Espanhola, quanto em América Inglesa havia muitas coisas contra a formação de um estado unificado. Aqui, na América Espanhola, já vimos que a própria formação anterior já não ajudava, e depois as diferentes divisões administrativas também interferiram. Nas treze colônias tínhamos também grande diversidade, porque para se ter idéia além de ingleses tínhamos colônias fundadas por holandeses, tínhamos puritanos, e outros grupos diferentes. Mas, depois de vermos essas diferenças, ainda não se pode saber, como que os EUA tiveram muito mais clara essa noção de identidade nacional, do que os sul-americanos.
Em primeiro lugar, a identidade norte-americana só aparece mesmo, com força total após a guerra de secessão em 1860, que foi o conflito entre os que defendiam um modelo latifundiário, agrícola e escravista (sul), versus os que defendiam o modelo mais fabril, de pequena propriedade e abolicionista (Norte). Nesse período muitas das idéias que ameaçaram a força aglutinante norte-americana caíram por terra com o fim da guerra. Mas, antes esse processo, mesmo que de forma lenta já tinha começado. Antes da independência, em 1776, as treze colônias, que não tinham clara a idéia de separatismo (ao contrario do que muitos pensam), porque afinal se consideravam ingleses da colônia do pacífico ou ainda virginianos, já se apoiavam em heróis da “nação”, embora ela ainda não existisse. Os peregrinos (pilgrim) eram os desbravadores que vieram tentar uma vida melhor em um lugar desconhecido, e por sua coragem tinham essa glória de heróis. Os puritanos também se consideravam senão heróis, pelo menos escolhidos (nova Israel), eleitos da sociedade. Com isso surgiu a idéia de WASP (White Anglo-Saxon Protestant). Mas, o qual era o interesse em ter uma unidade? Além de facilitar a defesa do novo país, facilitava e muito na cobrança de impostos, por exemplo, de uma contribuição em conjunto para o sucesso econômico do Estado, pelo menos na teoria todos deveriam contribuir para o bem comum.
Para se ter uma idéia, após a independência, George Washington não tinha noção de como seria a melhor forma de chamarem ele, em relação ao cargo que o próprio iria exercer. E o pior era como unir tantas entidades diferentes? Afinal, existiam grandes diferenças entre as colônias do Centro, do sul e do Norte.


Diferenças entre as 13 Colônias:
Norte – Composto por Virginia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia. Tinha como clima terras férteis e temperadas, usavam o sistema de plantation (arroz, tabaco, anil e depois algodão). Mão-de-obra escrava e sistema mercantil.

Centro – Nova York, Delaware, Nova Jersey, Pensilvânia. Colonização Holandesa, terra dos Quakers (Pensilvânia).

Sul – Massachussets, Nova Hampshire, Connecticut, Rhode Island. Faziam uso da pequena agricultura, comercio, extração de madeira, foi inicialmente colonizada por puritanos.


Um dos entraves que era um país vasto e sem grandes ocupações de terra por colonos. Aqui outra diferença da América Espanhola, já que apesar de não ter tantos habitantes, o espaço era bem mais aproveitado.
Agora podemos voltar a falar um pouco mais da América Espanhola. Aqui também tivemos grandes problemas quanto à unificação, principalmente na discussão entre conservadores e liberais, entre a centralização do poder e a descentralização (regionalização). No México temos os yorquinos e os escoceses em conflito, os primeiros, liberais, defendiam um modelo federalista e descentralizado, os segundos conservadores defendiam um centralismo político. Os yorquinos queriam expulsar os últimos espanhóis do México, o que causou grande insatisfação por parte dos conservadores. Na Argentina tem a implicação dos caudilhos no processo, e podemos ver as dificuldades portenhas nesse trecho, “(...) O confronto entre interesses de unificação do Estado nacional e os que pretendiam autonomia provincial traduzia-se na tentativa dos comerciantes de Buenos Aires em manter uma posição hegemônica na exportação de couros, charque, lã e outros produtos provinciais e, ao mesmo tempo, manter-se adiante no processo de importação de produtos europeus. No entanto, a incapacidade desse grupo de comerciantes em unificar as províncias e manter um governo centralizado traduziu-se num período de guerras civis”.(WASSERMAN, 96: 190). Em Casos de Peru, Bolívia, Chile, nada se altera muito em relação ao conflito entre centralizar e descentralizar. Talvez esteja aqui em boa parte a nossa resposta. Na América Espanhola, os liberais conseguiram garantir essa regionalização, já nos EUA, essa até perdurou, por motivos óbvios, mas se modificou na guerra de Secessão sendo que os derrotados tiveram que aderir de vez as idéias dos vencedores (winners), o que facilitou a expansão territorial e econômica do novo Estado e mais identificação nacional. Mas, para ter-se mais noção do porquê da idéia de manter regionalizado o Estado, “(...) a regionalização ocorre por causa de um desenvolvimento auto-sustentado de cada uma das partes e também porque cada uma dessas economias autárquicas, em geral não cumprem qualquer função no conjunto da sociedade. As forças centrífugas que atuavam no processo de formação do Estado Nacional latino-americano eram resultado dos interesses pré-capitalistas na manutenção de sociedades desarticuladas, cujo elemento dominante era dado pelo domínio interpessoal do grande proprietário. A falta de um elemento aglutinador na fase de constituição dos Estados Nacionais referia-se, na verdade, à inexistência de uma base econômica capitalista e de uma classe social com interesses não localizados regionalmente mas em todo o território nacional. Por isso, pode-se dizer que as lutas entre liberais e conservadores, litoral e interior, costa e serra eram expressões de interesses não localizados regionalmente mas em todo o território nacional. Por isso, pode-se dizer que as lutas entre liberais e conservadores, litoral e interior, costa e serra, eram expressões de interesses, em determinados sistemas produtivos ou, melhor, modos de produção.”(WASSERMAN, 96: 205).
Então, podemos entender que como na América Espanhola, havia pouca identificação entre as regiões, que na maioria tinham mais contato com a metrópole Espanhola do que entre si mesmas, e não havia interdependência econômica, porque haveria de ter divisão de lucros e igualdade entre todos. Porque do nada se deveria montar uma “colcha de retalhos” e agir como um corpo integrado?
Já nos EUA, apesar de serem 13 colônias, algumas tinham interesses parecidos, e de certa forma havia maior comunicação entre elas, até por descaso inglês. Quando a Inglaterra quis essa maior intervenção econômica, ocorre a independência e em 1860 as diferenças foram tiradas de vez na Guerra de Secessão. Foram criados heróis nascidos nas próprias colônias ou heróis desprezados na Inglaterra, como os peregrinos. Já na América Espanhola, os heróis eram os criollos, que praticamente eram espanhóis nascidos no “lugar errado”.

5 comentários:

  1. Pedro H. Cezar nº44 1ºB
    Concordo com o texto, que mostra que os norte-americanos são mais unidos, por serem colônias às vezes com interesses parecidos, seus heróis eram patrióticos, enquanto os da América Espanhola não se identificavam muito com as pessoas, eram pessoas nascidas aqui, mas que não se identificavam tanto com o lugar, e as colônias, os estados não eram tão unidos, e apenas se comunicavam com a Metrópole, e isso se reflete nos dias de hoje.

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  2. Mateus Borgo 1ano "A" n° 34


    Na minha opinião as dificuldades da america foram para conseguir se adptar apos a vinda dos colonizadores, pois nao conseguiram entender o que poderia acontecer, outro ponto critico foi a formação da nossa identidade nacional, pois apos conseguirem a independencia nao saberiam como sobreviveriam, já que sempre foram dependentes.

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  3. Murilo Maziero Serpa nº43 1ºB
    Ótimo resumida na história das colonias. Muito explicado, apontando os problemas e diferenças das colinias.

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  4. Guilherme A M nº21 1B
    Texto muito explicativo, explica os motivos dos principais conflitos que abalaram a américa, A américa do sul não é tão unida e seus heróis eram criollos.

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  5. Por: Bruna Wenzel 1ª A COC-Jaú.

    esse texto é bem interessante, pois não apenas mostra a dificuldade de formação de estado-nação da américa(EUA)(pois quando se cita ''Americanos" já vem a entender que são apenas os Estados-Unidenses, mas aqui nesse texto toda a América -do norte, central e do Sul- são citados como América, e também citam as dificuldades da américa toda, todos os países em geral (Bolivia, Peru, Brasil, EUA, México), e é bem legal isso, porque com todas essas dificuldades muita gente pensa que colonizaram nosso continente com facilidade, e impuseram leis para os cidadãos já presente na américa, mas com todo esse texto podemos aprender que por mais simples que seja algo que você faça, sempre terá dificuldades para chegar até o fim

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