sábado, 5 de dezembro de 2009

Pequeno relato de visita a São José do Norte



Cada vez que venho a Rio Grande, me apaixono mais pela minha área do saber humano, a História.
Esta regra também se aplica a uma cidade bem próxima, chamada São José do Norte, a qual já tive a oportunidade de visitar uma outra vez, onde apenas passei pelo seu centro e acabei por fazer um rápido lanche no restaurante Brisa Mar.
Agora, com um passeio mais direcionado e após uma rápida mas valiosa pesquisa no site da cidade, peguei os endereços dos pontos turísticos históricos e fui conferir como anda o tratamento do Patrimônio histórico e cultural da cidade de São José do Norte.

O primeiro local que pude avistar foi o busto do Almirante Tamandaré, também conhecido como Joaquim Marques Lisboa, nascido em Rio Grande e que foi um grande combatente em inúmeras guerras, sendo a mais importante a do Paraguai. Hoje é considerado o patrono da Marinha de Guerra do Brasil.



Após fui a procura da Biblioteca Municipal Delfina da Cunha, localizado na Rua 16 de Julho, número 369. Está estava infelizmente fechada.

Na sequencia me defrontei com três locais importantes, a Igreja Matriz, que passou vinte anos em construção, do ano de 1840-60 e conta com um claro estilo neoclássico/barroco e o altar construído em madeira talhada. No dia 2 de fevereiro é realizado a maior festa religiosa em louvor a Nossa Senhora dos Navegantes. Esta foto tirei diretamente do outro lado da rua, na Praça Intendente Francisco José Pereira, a Praça da Matriz.



Minha próxima parada foi o busto de Garibaldi, combatente da guerra Farroupilha ao qual dispensa maiores apresentações.




Minha ultima parada fica com a nota lamentável do dia. O museu histórico Farroupilha, local com peças raríssimas e documentos de inestimável valor, está fechado por tempo indeterminado, segundo um
um único voluntário, estudante de Turismo que disse que o museu agora dependia de caridade da comunidade para se manter. "As peças do museu resgatam a história da Revolução Farroupilha que, em São José do Norte, o conflito aconteceu em 16 de julho de 1840. Existe em exposição uma cadeira usada por D. Pedro II em 1845, quando esteve na cidade."(site da cidade -http://www.saojosedonorte-rs.com.br/museu.html). Um museu tão importante com as portas fechadas preocupa muito este simples estudante de História, que esperava um pouco mais de carinho com a memória desta cidade



Por fim, deixei outros dois pontos restantes, estes são:
Solar dos Imperadores - É um dos sobradões mais típicos e admirados, construído em 1800, onde se hospedaram D. Pedro I em 1826 e D. Pedro II em 1845. Este acabei não conferindo, porque minha barca estava para sair. Mas, está me intriga muito e numa próxima oportunidade vou desenvolver sobre a mesma.


Prédio da Intendencia - antiga prefeitura de São José do Norte, foi construído em 1898, atualmente está tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional e em processo de reforma. Está localizado na frente da nova sede e o seu restauro ainda é muito preliminar, parece ainda que a obra está parada a tempos. Acabei por não registrar uma foto, esperando um dia poder contemplar os leitores deste blog com a imagem do prédio restaurado.

Hoolingas! Cine-Fórum




Estava em Rio Grande, onde baixei o filme que havia ouvido falar num jornal televisivo esta semana. Se trata de "Hooligans".
Um filme interessantíssimo, estrelado por Elijah Wood, em tempos de véspera de Copa do Mundo cai como uma luva para a questão de onde inicia o amor ao país/clube de futebol e onde nasce um sentimento revanchista de selvageria, até onde pode ir o fanatismo esportivo?

O filme trata da história de um jovem estudante de jornalismo de Havard, chamado Matt Buckner (Elijah Wood), que acusado injustamente de ser usuário de cocaína, é expulso da Universidade.
Inconformado e desolado, ruma a Inglaterra, para rever a irmã que havia casado a alguns anos.
Na casa de sua irmã conhece Pete Dunhan (Charlie Hunnan), irmão do marido dela.
Este participa da fanática torcida do West Ham United, onde os integrante se confrontam diretamente com as demais torcidas que por sua vez, também tem um "braço rebelde", sendo a maior rival a do Millwall. O desfecho promete emocionar a todos os que vierem a assitir este grande filme que mostra a fundo a pratica do hooliganismo.

Hooliganismo referes-se a um comportamento destrutivo e desregrado, praticado em sua maioria na europa, em países como Alemanha, Inglaterra, Croácia, Polônia, Rússia. Costumam fazer ligações a partidos de direita (principalmente na Alemanha)e a grupos skinheads. Atualmente este grupo é proibido em vários países europeus. O problema de xenofobia também se liga ao hooliganismo, no Brasil os problemas se relacionam as torcidas organizadas de grande clubes, como Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Corinthians, Grêmio, Internacional, Vasco, Santos...

Ao fazer este post descobri que já saiu a continuação, Hooligans 2, onde retrata os mesmos hooligans dentro da cadeia, mas isto rende mais um cine-fórum...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Chacara das Rosas: Observações e um breve apontamento Histórico de um Quilombo urbano




Primeiramente, o grupo de pesquisa que foi ao evento teve como meta decorrer sobre um breve histórico a respeito do Quilombo Chácara das Rosas, de sua importância, de suas dificuldades, de sua titulação e reconhecimento, para compreender o contexto em que se realiza a titulação do Quilombo, que ocorre no dia 30 de outubro de 2009.
O objetivo deste trabalho era aproximar a questão do negro em estudo de História do Brasil, através do contato com a questão quilombola e fazer um link com os quilombos e amocambados da época colonial, refletindo sobre a importância destes não só como meios de resistência, mas como modos de ser e viver.
Através de pesquisa por meios midiáticos, como jornais e sítios da internet, buscamos o histórico do quilombo, bem como a divulgação da sua titulação, onde estivemos e registramos através de fotos e observações toda a importância do evento.

Origem do Quilombo
As origens de Chácara das Rosas nascem em um outro Quilombo, que fica na região de Gravataí, e ainda luta por sua titulação:

“A origem da comunidade de Chácara das Rosas remonta a um outro quilombo mais antigo, Manoel Barbosa. Rosa Barbosa de Jesus, fundadora de Chácara das Rosas, era uma das 12 filhas de Manoel Barbosa e Maria Luiza Paim de Andrade, fundadores do quilombo de Manoel Barbosa, localizado em Barro Vermelho, zona rural do municípiodeGravataí.
Manoel e sua esposa, Maria Luiza adquiriram terras em Gravataí nos últimos anos do século XIX. Na época, a escravidão já havia sido abolida e ambos eram ex-escravos. Manoel comprou terras de um antigo senhor de nome José Joaquim Barbosa e, de acordo com a antropóloga Vera Rodrigues e o historiador Vinícius Oliveira (2006), é bem provável que a venda de parte dessas terras tenha ocorrido após a ocupação do território, visando regularizar uma situação já existente. Maria Luiza ganhou o restante das terras de sua antiga senhora e madrinha de nome Isaura.”

Nascida no quilombo de Manoel Barbosa em 1908, Rosa Barbosa de Jesus, deixou seus familiares aos dezoito anos, quando se casou com João Maria Generício de Jesus e foi embora, mas os motivos são desconhecidos. Em 1952, após a morte do marido, fica encarregada de cuidar de seus 12 filhos e manter a produtividade de rosas, verduras e demais culturas cultivadas no local. As terras da chácara das Rosas, podem ter sido obtidas por meios de compra ou doação, com informações ainda contrastantes.
Alguns fatos marcam a história da Chácara das Rosas, um deles é a da horta de Tonho, filho do casal Rosa Barbosa de Jesus e João Maria Generício de Jesus e que deu continuidade às praticas agrícolas que mantinham o local economicamente ativo.
“Tinha eucalipto, tinha árvores frutífera, tinha muita árvore, árvore, árvore, tinha bergamota, tinha laranja, limão, de tudo que tu possa imaginar, mamão, melão, tinha rosa, tinha muita rosa, muita flor, muita flor, tinha canteiros de alface, tanto que o pai vendia assim, aipim, era plantação de aipim, o pai trabalhava a noite, durante o dia e a folga dele ele vendia, ele plantava para vender” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 79).


A Chácara das Rosas passou por um processo de urbanização, juntamente com o próprio município de Canoas, sendo que antes deste processo na própria cidade, o quilombo possuía várias casas esparsas, uma cachoeira entre outras partes que foram aos poucos se espremendo ou desaparecendo.

Isabel Cristina Generício, neta de Rosa e João:
“(...) Eu notei que tinha se avançado assim e o nosso espaço parece que tava meio que diminuindo, eu tinha uns 9, 10 anos. Aí que eu senti a diferença, parece um impacto que deu, uma avalanche, né? Foi bem ligeirinho, foi bem ligeiro, com certeza que é ali no período da minha infância e aquilo foi indo, tu sabe que dava para ti tocar, mais ou menos, tinha um valão aberto aqui, um valão aberto, ali não era valão, era uma cachoeira, a gente tomava banho, água limpinha, aí logo depois teve a invasão da Guajuviras, tinha, quantos anos eu tinha quando deu a invasão da Guajuviras? Acho que uns 15 anos eu acho, daí começou a poluir tudo, o valão começou a poluir, não tinha mais cachoeira (...). É, a evolução foi muito rápida, muito rápida, muito rápida, foi nessa época aí, eu tava com uns 13, 14 anos. Sabe assim, quando o mundo vem com uma rapidez em cima assim, duma cidade que simplesmente, uma caretice, porque interior, sabe? Tanto é que eu até perdi um pouco o sotaque de Canoas” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 100).


Outro ponto relevante é a questão do espaço da religião dentro do quilombo. Na suas origens o catolicismo era predominante, mas tinha clara a presença do curandeiro e da bezendeira. Hoje temos ainda a divisão em evangélicos e religiões de matriz afro-brasileira. A casa de nação “Reino de pai Ogum”, é local da pratica do batuque, religião que existe no RS desde o século XIX.

“A estruturação do Batuque no estado do Rio Grande do Sul deu-se no início do século XIX, entre os anos de 1833 e 1859 (CORREA, 1988a: 69). Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados na região de Rio Grande e Pelotas. (...) Os rituais do Batuque seguem fundamentados, principalmente das raízes da nação Ijexá, proveniente da Nigéria, e dá lastro as outras nações como o Jejê do Daomé, hoje Benim, Cabinda (enclave angolano) e Oyó, também, na região da Nigéria. O Batuque surgiu como diversas religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil, tem as suas raízes na África, tendo sido criado e adaptado pelos negros na escravidão” (Wikipédia apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 87-8).
E segundo o coordenador da casa

“Nós temos um lado da Cabinda o qual eu vou pro chão, faço festa, faço mesa pras crianças. (...) É bonito, é bonito, quando tu vem, não tem nada de diferente, tu corta uns bichos que o sacrifício pros Orixás, uma coisa que veio da África, que a gente segue daí, faz uma mesa linda pras crianças, recebe os convidados, os outros irmãos que também vêm da religião. O que tem de mal nisso? Não tem nada! Toca um batuque, começou, acabou, no final aquela comilança, aquela alegria (...) Eu adoro, quando é pra ver o fervo, criançada e faz mesa lá dentro, as gurias correndo aqui, se empenham naquilo. Eu não vejo nada de mal!” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 88).



O processo de reivindicação está sendo promovido desde meados dos anos 2000, tendo como objetivo a titulação dos 3.619,44 metros quadrados de seu território. Em 2005, o Incra regulariza a fundição do local e em fevereiro de 2008, o relatório técnico é publicado e agora era questão de tempo para a Titulação. Hoje, localiza-se no bairro de classe média alta de Canoas, Marechal Rondon.
O nome da comunidade decorre de uma prática muito valorizada entre seus moradores: o cultivo de rosas. Rosa Maria de Jesus, fundadora do quilombo, gostava muito de plantar roseiras. No passado, as rosas embelezavam o território da família e sua comercialização foi mais uma fonte de renda para os quilombolas de lá.


Observações sobre a titulação


Os graduandos de História do centro Universitário Unilasalle, Felipe Contri, Luis Fernando e Sergio Marques foram ao evento de titulação do Quilombo Chácara das Rosas, primeiramente para prestigiar as importâncias deste evento para consciência negra e para a comunidade quilombola e em segundo lugar para aprofundar os conhecimentos já adquiridos nas aulas da disciplina de Brasil I, ministrados pela Professora Elsa Avancini, que tem uma ampla pesquisa vinculada ao mestrado em Memoria Social e Bens Culturais da própria Faculdade. Ao primeiro momento que chegamos na escola onde a titulação ocorreu percebemos um sentimento de extrema alegria e felicidade dos moradores, mas principalmente o de justiça. O evento contou com a participação das 24 famílias descendentes de Manoel Barbosa, negro que lutou na Guerra do Paraguai e que residiu no Quilombo Chácara das Rosas. Para o presidente do Incra Rolf Hackbart “A titulação é a carteira de identidade da terra. Sem ela, não se realiza a conquista de outras políticas”. Algumas famílias ainda estão cadastradas no projeto Minha casa, minha vida do governo federal e ainda vão receber moradias novas. O evento contou com inúmeras outras comunidades que vieram e inclusive demoraram a achar o acesso ao local. Por fim, gostaríamos de ressaltar que este trabalho teve mais basicamente elucidar o valor deste marco para a História Canoense e gaúcha, bem como para a História afro-brasileira. Foi o reconhecimento de uma realidade existente, foi o “desabrochar” de uma rosa que ansiava por ver pela primeira vez o sol, sentir o calor e a energia deste e um quem sabe um dia dar origem a belos frutos.







Referências:
Canoas: para lembrar quem somos (livro Vinculado ao Mestrado MSBC)
http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/brasil/rs/rs_quilombosurbanos_chacaradasrosas.html
http://www.cpisp.org.br/terras/
http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias-do-site/indios-e-minorias/mpf-rs-comunidade-de-chacara-das-rosas-pode-se-tornar-primeiro-quilombo-urbano-do-brasil/
Diário de canoas, consultado dia 31 de outubro de 2009.

sábado, 28 de novembro de 2009

Pendores ao bem e ao mal: Uma análise sobre a teoria Kantiana do livre-arbítrio e a moral das máximas






Em primeiro lugar para entender as teorias que envolvem Kant, seria de grande importância discorrer sobre a sua vida e de como era a sociedade em que ele vivia. Immanuel Kant nasceu em Konigsberg no ano de 1724. Em 1740 começou seu estudo em Teologia, embora tivesse grande interesse em Filosofia e Matemática as quais dedicava boa parte de seu tempo. Teve notável participação na elite local sendo tutor de jovens abastados. Em 1770 começa a lecionar na Universidade, abrangendo amplos temas que envolvem Antropologia, Filosofia e Matemática. Metódico cumpria sempre o mesmo ritual, tinha horários rigidamente inflexíveis, marcas visíveis de uma influente educação luterana recebida de sua mãe. Era protegido por Frederico II da Prússia, seu grande admirador. O sucessor de Frederico II, Frederico Guilherme II, proibiu Kant de escrever sobre Religião. Kant Morre em 1804.
Kant viveu num período de intensas mudanças políticas, religiosas e culturais, sendo que pode presenciar a mais importante mudança intelectual, o movimento Iluminista, onde teve concordâncias e discordâncias e criou até adversários intelectuais, como Rousseau. Mas, diferenças a parte, Kant teve, grosso modo, mais espaço para pensar do que seus antecessores e grandes mestres inspiradores como Descates e Platão, do qual se atribui as primeiras reflexões do idealismo, com o mito da caverna, onde o homem apenas vê um feixe de luz e vai a caminho do encontro desta. Ou então como Berkeley, que criador do Idealismo Dogmático, deu alguns subsídios necessários para a teoria Kantiana (embora o Idealismo dogmático se choque com o Transcendental de Kant). Provavelmente as maiores discordâncias entre Kant e Berkeley fossem o método, que Berkeley ainda se valia da empiria (escola a qual pertencia e foi iniciada por Hume), que é atacada ferozmente por autores como o próprio Kant, ou então o entendimento na capacidade ou não dos objetos inanimados se “comunicarem” com o sujeito.
Suas teorias foram massacradas depois de sua morte, principalmente quando da época áurea do positivismo, que se baseava no documento como verdadeiramente o único material que dispunha do fato verídico, por tanto, buscava no método empírico a forma de construir sua teoria. Um autor que promove duras críticas posteriormente é Friedrich Nietzsche, que combate às idéias desde Platão até Hegel, tendo uma visão histórica, filosófica bem diferente das de Kant. O autor mais atual que li, que se contrapõe a Kant, é o espanhol Leonardo Pólo, do qual me foi útil no entendimento de certos conceitos referentes à Teoria do Conhecimento e a Metafísica.
Atualmente este autor é retomado e tem sua importância reconhecida, principalmente por historiadores da Nova História Cultural, e alguns estudiosos das demais áreas, como a Filosofia.








CAPÍTULO I – A INERÊNCIA DO MAU PRINCÍPIO AO LADO DO BEM OU DO MAL NA NATUREZA HUMANA

No primeiro capítulo, Kant demonstra sua discordância quanto às raízes do homem, que segundo Rousseau “o homem é naturalmente bom, nasceu bom e livre, mas sua maldade ou sua deterioração adveio da sociedade” (ROSSEAU, Jean-Jacques, pág 15, 2008).

“Que o mundo é mau, essa é uma queixa tão antiga quanto à história e até mesmo mais antiga ainda que a poesia, bem mais, tão antiga quanto o mais antigo de todos os poemas, a religião dos padres. Para todos eles, contudo, o mundo começa pelo bem, pela idade do ouro, a vida no paraíso ou por uma vida mais feliz ainda, em comum com os seres celestiais. Entretanto, fazem logo desaparecer essa felicidade como um sonho; e então ocorre a queda no mal (o mal moral, com o qual o físico sempre andou junto) que a fazem precipitar-se acelerando-a, para nosso pear, de modo que agora (mas esse agora é tão antigo quanto a história) vivemos nos derradeiros tempos, porquanto o ultimo dia e o fim do mundo estão próximos. Por isso em algumas regiões do Industão o juiz e o destruidor do universo Ruttren (chamado também Siba ou Siven) é honrado como o deus que detém atualmente o poder, depois que o conservador do mundo, fatigado de suas funções, recebidas do criador do universo Brahma, as havia já anulado havia séculos”.(KANT, Immanuel, pág 27,2008)

Citando a ideia de paraíso terrestre que teria sido abalado por um mal inicial, Kant diz que o que acontece na verdade é um uso inadequado de método, este certamente empírico. Em primeiro lugar, o homem não pode ser definido como inicialmente bom, logo o estágio “mau” cairia em desuso. E segundo lugar o método empírico não formaria teoria para a origem de sua disposição natural, logo o que se tornaria o homem, enquanto ser e sociedade, se perderiam de significados. Diz que o ideal de Sêneca e Rousseau, por demais moralista, tentava incutir que o homem tinha em si o germe do bem. Mas, Kant insiste que o que deve se propor seria o caminho do meio, uma solução media. O que na verdade diz que o homem não é mau porque age de forma má, mas sim porque suas máximas são más. A empiria só serviria para comprovar os atos contrários as leis, que são atos maus certamente, mas não se pode observar as máximas nelas, nem mesmo por ser na mesma pessoa. Por isso, a empiria não pode ser usada como construtor de teoria histórica. Para esclarecer um pouco o termo natureza, podemos usar o que Kant afirma ser “o fundamento subjetivo do uso da liberdade”, o livre arbítrio, que mais adiante trataremos com mais propriedade.
Com isso, chegamos a outro termo, o pendor. O homem seria hospede de pendores naturais, que se e somente se confirmariam quando este através do livre arbítrio e o uso da liberdade, criaria uma máxima. Do contrário, sem o fundamento livre, o homem estaria à mercê de um instinto natural e nunca um pendor.
Então:
“Quando dizemos que o homem é bom por natureza ou que é mau por natureza, isso significa somente que possui nele um princípio primeiro que lhe admite conceber boas ou más máximas (isto é, contrárias à lei)”.(KANT, Immanuel, pág. 30, 2008).

Este uso do livre arbítrio, uma característica movida através do âmbito racional, lhe é inato, e o diferencia dos outros animais. A falta não é causada pela natureza, se for mau, nem o mérito se for bom, sendo o homem o único autor de suas próprias linhas.
A partir disso, aparece outro questionamento, se o homem é bom ou mau moralmente em sua natureza (essência). Uma das repostas que me parece mais viável é o que Kant disse ser, nenhuma das coisas e as das coisas ao mesmo tempo. Mas, como assim? Se há ambigüidades, logo não há máximas!
Evidentemente uma cisma aparece em cima desta pergunta, já que se não se tem uma máxima o próprio método empírico pode voltar a tona como fator de definir a natureza humana e suas implicações ao longo das sociedades. Mas o livre arbítrio também tem sua natureza peculiar, logo não pode cair no determinismo rigorista , a menos que o homem a tenha admitido em sua máxima.
Mas a lei moral deve ser por si só motivo para seu cumprimento, não seria? Porque se a lei não determina por si mesma o respeito ao ato que a pessoa tem, é necessário que o motivo contrário tenha influências do livre-arbítrio; sendo que neste caso o homem também tem de admitir sua máxima. Ora, então o homem não é moralmente bom ou mau, porque qualquer uma de suas escolhas está subjugada a escolha da máxima. E a intenção, o que cabe ao subjetivo, é o primeiro passo a admissão das máximas, sendo o uso geral da liberdade. Neste momento, segundo Kant:

“Tenhamos o direito de entender por homem, do qual dizemos que é por natureza bom ou mau, não um individuo em particular (pois então poderia ser considerado como bom por natureza e outro como mau), mas na realidade toda espécie, é o que não poderá ser demonstrado senão mais tarde, quando a pesquisa antropológica tiver feito ver que as razões que nos autorizam a atribuir a um homem um dos caracteres como inato, forem tais que não haja lugar para excetuar um só homem e que o que valer para ele valha para toda espécie”.(KANT, Immanuel, pág 34, 2008).


CAPÍTULO II - DISPOSIÇÂO NATURAL PARA O BEM NA NATUREZA HUMANA

De maneira bem sintética, o homem se enquadraria em três variantes gerais: A disposição do homem, enquanto ser vivo a animalidade; Sua disposição à humanidade, enquanto ser vivo e racional; sua disposição à personalidade, enquanto ser racional apto à responsabilidade.
Em primeiro lugar, o homem animalesco, tem o amor de si fisco e mecânico, não necessitando d a razão. Ela é tripla: conservar a si; a espécie, através do ato sexual típico do espírito da animalidade; associação a outros homens, embora o homem tenda a se associar, fica divagando e contradizendo-se sobre o pendor de associar-se e de isolar-se de todos (tendência subjetivista). Os possíveis vícios animalescos são a intemperança, lascividade e anarquia.
Em um segundo momento a humanidade atinge um amor de si ligado a uma certa razão ou ação racional, que é feita por modo comparativo. Desse amor provém a inclinação de conferir-se um certo valor de juízo a outrem. Surgem vícios como a inveja, rivalidade, ingratidão, que por muitas vezes tem a mera finalidade de superar o próximo.
Por fim, a disposição à personalidade, aptidão de seguir a lei moral, que não é disposição natural, mas sim arbítrio que nos leve a uso da liberdade. Embora o homem use a razão em sua plenitude apenas neste estágio, as duas anteriores não o podem ser abandonadas, sendo que resultaria no fim do próprio ser, é sua essência.

CAPÍTULO III – PENDOR PARA O MAL NA NATUREZA HUMANA

Também este preceito se define por três aspectos básicos, embora antes seja adequado fazer algumas ressalvas. O pendor é um desejo, uma vontade; o mal que trataremos não é o mal moral, já que o arbítrio não pode ser julgado, sendo que está em suas máximas, deve ter a possibilidade de se afastar das máximas da lei moral. A aptidão ou inaptidão ao arbítrio, proveniente do pendor natural, é designado de boa ou má vontade.
A primeira máxima adotada é a da fragilidade da natureza humana é expressa até mesmo na queixa de um apostolo.
Em segundo lugar, a impureza do coração (impuritas improbitas) consiste, segundo o objeto, é sem duvida boa, se levarmos em conta a sua máxima. Neste caso, as ações ganham intencionalidade e não o dever pelo dever, o que é mau, ou seja, representa a má vontade.
Em terceiro lugar, maldade (vitiosas, pravitas) ou corrupção (corruptio) do coração humano, cria “falsas” máximas, de acordo com o que fogem da Lei moral.
Não há diferença entre um homem de bons costumes e de boa moral. Mas seria o homem mau por natureza?


CAPÍTULO IV – O HOMEM É MAU POR NATUREZA

O homem é mau. Sim, mas porque usamos esta expressão que por vezes parece-nos algo inato a sua essência humana?
Segundo Kant, o homem é mau quando tendo consciência da lei moral e, contudo, admite em sua máxima, ainda assim afasta-se dela. Isso em caso de espécie, mas à medida que conhecemos o homem podemos supor este pendor, através desta idéia da contravenção da máxima. Podemos tentar supor alguma teoria, através de suas proposições: o homem bárbaro e o homem civilizado.
O homem bárbaro, através de alguns casos como os sangrentos casos de Tofoa, da Nova Zelândia, das Ilhas dos Navegadores , seria um homem desprovido de idéia de civilização e então não seria capaz de resolver nada por meios pacíficos e benéficos a outrem. Seriam enormes os vícios da barbárie.
Mas, se colocássemos o conceito de Estado civilizado em jogo, se acreditássemos que a civilização é o melhor método de se viver. Muito certo, mas o que poderia se dizer quando povos civilizados se encontram e frente àquele processo referido anteriormente, o da disposição à humanidade, o que provoca cobiça/inveja em comparação, colocasse em estado de verdadeira selvageria ambos, lutando por qualquer que seja o motivo, de forma carnificina. Será mesmo que a cultura e a civilização são os definidores da razão humana? Seriam apenas eles suficientes?
Aqui entramos na questão dos quiliasmos. O quiliasmo filosófico que almeja um estado de paz perpétua e o quiliasmo teológico que espera a realização do melhoramento moral de todo gênero humano. Seriam estes também possíveis?
Isso não tem como definir ou saber a resposta por hora, mas retornando a nosso assunto de foco, qualquer homem, até mesmo o mais “mau” de todos, quaisquer que seja as suas máximas, nunca renuncia a lei moral, já que para agir de forma rebelde há que se considerar ao menos esta mesma máxima, como ser a ser corrompido. Ora, então até mesmo sendo mau o homem leva a sério à máxima, tornando-se isento deste signo mau. Então não pode ser nenhum homem sequer mau? Evidentemente se um homem levar em conta somente seu arbítrio, em sua máxima, sem referencia a lei moral, seria moralmente mau.
Neste estudo preliminar estamos tentando definir quando o homem é mau e quando é bom, mas poderíamos contrapor um ao outro e perceber suas diferenças? Não. Na verdade apenas a subordinação (sua forma) define, ou seja, o homem só é bom ou mau em contraposição ao outro, estabelecendo condições a outrem. O homem só é mau se inverter a ordem moral dos motivos de suas ações. Neste caso, o caráter empírico é relevante, mas o caráter inteligível permanece sempre mau. O mau deve ser procurado no livre-arbítrio e que em decorrência imputável, é moralmente mau. Daí a razão, que pode agir como controladora das ações, impedindo o homem de agir mal moralmente e lhe dando a liberdade, embora pareça contraditório.




CAPÍTULO V – A ORIGEM DO MAL NA NATUREZA HUMANA

Origem é aquilo tudo que é primeiro, ou seja, aquilo que e de onde surge, não sendo efeito de nada. Existem dois tipos de origem: temporal e racional. A primeira origem, a temporal está leva em conta o evento e coloca este situado no tempo, enquanto que a segunda apenas o analisa como evento. Para nós que queremos entender o efeito nas leis da liberdade do mal moral, a origem racional é mais adequada. De todas as maneiras de dizer de onde vem o mal original, a pior de todas é a que imputa ao homem o mau passado pelos nossos primeiros ancestrais por hereditariedade. O que erramos é o método, já que se procuram o mau, não os pendores (intenções). O que se imagina é que o homem saiu do estado de inocência para o estado de ser mau. Isto pertence já a origem temporal, onde o pecado original que nos traz maus para o mundo. Isso nos leva a crer, que a natureza má seja nos algo inato, que esteja fixado em nossa essência natural, mas nunca se consideram os pendores. Agora para entender o local de origem, deve ser voltar a um passado histórico muito anterior ao uso da razão, e o homem teria ganhado na origem juntamente com a razão o pendor ao mau...
Quanto à origem desse desacordo no nosso arbítrio, permanece para nós insondável, já que isso acarretaria uma adoção de uma máxima má, o que obviamente, provocaria um mal moral (o que é mal moral nunca está de acordo com as máximas, e sim com o arbítrio). Então nossa disposição natural é para o bem, sendo papel do próprio homem corromper este bem. Então, o mal para nós em termos gerais ainda é desconhecido em sua origem (e em muitas vezes em sua essência), mas o homem tem sido presa deste mal, unicamente por sedução (pendor). Não é corrompido na sua essência, mas sim após isso, após seu fundamento. Kant diz que “Assim no homem que, apesar da corrupção de seu coração guarda ainda boa vontade, permanece a esperança de um retorno ao bem, do qual se afastou”.(KANT, Imannuel. Pág 55, 2008).


Conclusões gerais

Em primeiro lugar, ler Kant é mergulhar em um universo abstrato da alma humana, sem ser redundante obviamente.
É interessante notar como Kant em suas obras retrata, as indagações humanas sobre a estética, sobre a “religião”, sobre a política, sobre a metafísica e a História. Em meu caso, quis observar a partir de um recorte do seu livro A Religião nos limites da simples Razão, talvez uma das várias reflexões humanas a que tange as origens, mais especificamente as origens do bem e do mal e seu evidente relacionamento com as religiões. Faço usando me deste recorte já muito trabalhado no meio acadêmico, uma análise de suas teorias, que estão inseridas dentro desta temática, mas que são visíveis aos iniciados em Kant. Se método contrário ao empírico também ganha importância na contraposição aos positivistas.
Mas, centro meu trabalho em torno da questão dos pendores. Nesta faço percebemos as grandes discussões teóricas entre Rousseau e Kant, que digladiam quanto à questão do homem e sua natureza boa ou má.
Por fim, gostaria de parabenizar a todos que resolveram fazer o trabalho de Grau 2 sobre Kant e lembrar o quanto é interessante fazer as contraposições históricas e teóricas entre os casos anteriormente citados, por exemplo, e evidentemente, realizar um estudo dos “mestres” em que Kant bebeu, embora alguns destes fossem de correntes de pensamento contrárias ao Idealismo alemão, como Berkeley, Hume, Descatés (empiristas).







REFERÊNCIAS GERAIS:


DOSSE, François. A História. Tradução Maria Elena Ortiz Assumpção, Bauru, São Paulo. EDUSC, 2003.
GARDNER, Patrick. Teorias da História, 4 edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1995.
Grécia Terra dos deuses, Os grandes Filósofos, edição n2, editora escala, São Paulo 2004.
KANT, Immanuel. A Religião nos Limites da Simples Razão. Editora Escala, São Paulo, 2008.
PLATÃO, Coleção os pensadores. Editora Nova Cultural, São Paulo, 2000.
PÓLO, Leonardo. A crítica Kantiana do Conhecimento. Editora Escala, São Paulo, 2007.

domingo, 18 de outubro de 2009

Entrevista com Leach: Aprofundamento na aula de cultura II







Para quem quer aprofundar seus conhecimentos nas teorias de Leach, após a aula de Cultura II com o professor Manoel, aqui vai a dica de uma entrevista com o nosso teorico do momento, que aborda as questões antropologicas sobre as mudanças politicas na Birmania, entre outros assuntos referentes aos cenários mundiais.

Para assistir:http://www.youtube.com/watch?v=fyIq8mfdMB0

Projeto Antropológico

Faço aqui um espaço para divulgar o meu ultimo poster sobre minha pesquisa de antropologia social/alimentar
Para ter acesso ao poster apresentado no V SEFIC do UNILASALLE, clique abaixo:

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Paulino Azurenha, voce sabe quem ele foi?








Muitas pessoas pegam um onibus, moram na rua, ou já passaram por algum lugar que faça menção a este nome...
Mas, quem é este homem?
Nesta primeira aproximação vou sair pelas redondezas da rua, pontos de onibus por onde ele passa e vou perguntar aos usuarios e moradores está mesma pergunta.
Paulino Azurenha, voce sabe quem ele foi?
Através de dados estatisticos tentarei fazer uma analise em pró da memória dos grandes personagens gauchos e o primeiro que escolhi foi o que eu sempre "pego", e onde moro, na Paulino Azurenha.
Aqui trago a obra de sua vida, que foi feita em conjunto com, Mário Totta e Sousa Lobo, dois outros genios gauchos.
José Paulino de Azurenha (Porto Alegre, 1860 — Porto Alegre, 1° de julho de 1909) foi um jornalista e escritor gaucho e brasileiro. Além disso, foi membro da Academia de Rio Grandense de Letras. Por prazer e por uma dívida com a memoria local, tenho por missão buscar mais informações referentes a vida e obra deste ícone das letras gauchas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Exemplo a seguir?



Após 160 anos da morte do grandiosíssimo poeta Edgar Allan Poe, ele teve um enterro digno de sua majestosa importancia para a humanidade. De uma literatura cruenta, obscura e muitas vezes até assustadora, serviu de inspiração a poetas brasileiros como Augusto dos Anjos, que desenvolvia uma tematica de "carnes putrefatas"
e os escritores do mal-do-século, Alvares de Azevedo, Fagundes Varela...
Sua principal obra "O corvo", ficou imortalizado com sua frase proferida por um corvo preto "Nunca Mais". Até os simpsons o retrataram, tamnha é sua importancia para os americanos na epoca anterior a Guerra de secessão e para o mundo como um todo hoje. "O funeral é, sem dúvida a coroação dos eventos em homenagem ao aniversário de 200 anos de nascimento de Poe. Junto com Baltimore - onde passou alguns dos seus magros anos, em meados da década de 1830 - Poe viveu ou tem fortes ligações com Boston, Nova York, Filadélfia e Richmond."(Site da ABril)





Isso pode servir para redimir o que ocorreu quando Allan Poe morreu, em 1849, seu enterro passou despercebido e apenas sete pessoas foram nele.
Neste domingo dia 11 de outubro de 2009 inclusive réplicas de Alfred Hitchcock, H.P. Lovecraft e Arthur Conan Doyle participaram do evento. Esperamos que nossos genios, também ganhem esta valorização e que outros grandes homens nao precisem esperar tanto para ter seu descanso merecido.
Vivas ao Nosso amigo Poe! (Sou seu leitor assíduo)

sábado, 10 de outubro de 2009

Cine fórum

Pela primeira vez indico filmes em meu blog. São apenas pequenos apontamentos sobre estes que venho trazer, não querendo aprofundar muito, apenas indicar e promover uma reflexão.E são filmes que giram em torno de uma temática bem parecida, embora com métodos de mostragem bem diversos.São eles O curioso caso de Benjamin Button - David Fincher; Marley e Eu, a vida ao lado do pior cão do Mundo - John Grogan e Antes de Partir -Todos eles se debruçam em cima do Tempo e de como este age em nossas Mentalidades, Maneiras de ser no mundo,de agir...e de se ver e ser visto.
Outra questão bem interessante, que é embebida do Tempo é o envelhecimento, do qual quase todos personagens destes filmes, seja ele John Grogan e Marley, Benjamin (que rejuvenesce) e Deise, ou Carter e Eduard, todos passam por mudanças e tem que se adaptar a elas.

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON



A rede de acontecimentos que desencadeiam em algo...."A vida uma série de eventos interligados" Todos esses eventos e a grande e curiosa diferença de Benjamin inspiram
a reflexão. Pensar na questão tão abordada por Sêneca sobre o tempo e sua fugacidade.
"Pena que tudo é finito". Ao nascer idoso e ir rejuvenescendo Benjamin mostra uma nova maneira de encarar a vida, morte e o envelhecimento, todas essas fases da vida que são alvo de inúmeras considerações e questionamentos. O tempo talvez seja o motor dessas fases, mas a maneira de ve-lo são das mais diversas...A cena do beija flor estabelece um link com o passado, e mostra que a morte pode ser um recomeço.
Traz uma perspectiva bem diferente do Viver, envelhecer e morrer, bem como da fugacidade do tempo.


MARLEY E EU: A VIDA AO LADO DO PIOR CAO DO MUNDO




Fala um de um cão que mesmo sendo ultra desobediente, trouxe o mais valioso da vida
para esta familia em nascimento, que foi a união e o verdadeiro conceito de amor.
O tempo chega a todos, e Marley morre mostrando que o bom da vida está nas coisas mais simples. Ao ler o Livro e ver o filme, percebi o quanto esta visão do envelhecer em si e sua mulher e em Marley estava presa em Grogan, que percebe primeiro em Marley um processo que ele alguns anos mais tarde também passará.


ANTES DE PARTIR


Fala do encontro de dois estranhos Carter (Morgan Freeman) e Eduard (Jack Nicholson), que com trajetórias diferentes acabam no mesmo barco, o cancer terminal. No Hospital acabam por ter uma amizade sem igual, que os leva a questionar os sentidos da vida. Através de um projeto em comum, fazem de seus ultimos momentos algo que talvez jamais tivessem feito, viver a vida. Realizam sonhos e vencem antigos medos, aproveitando sem saber se haveria um amanhã...
Carter abandonara sua vida em pró da familia, Eduard em pró do trabalho...
Caminhos diferentes, percepções diferentes do modo de construir o processo de envelhecer.

domingo, 27 de setembro de 2009

Sagrado e profano:As grandes questões envolventes dos dois modos de ser por Mircea Elíade




Introdução

O que realmente define o que é sagrado ou o que é profano? Ou ainda, quem é que define o que é sagrado? Segundo Mircea Elíade, autor do texto que usamos neste pequeno, “o sagrado manifesta se sempre como uma realidade inteiramente diferente das realidades ‘naturais’”. Ora, neste caso podíamos até tentar entrar na questão de diferenciar o que é natural do que é cultural, mas essa discussão será feita posteriormente. O homem então considera tudo que foge de seu alcance de compreensão cognitiva como sagrado, mas talvez a melhor, senão a mais segura resposta seria dizer que o sagrado é tudo aquilo que se opõe ao profano. Mas brotaria desta mais duas questões totalmente relevantes:
O que é profano? E, o quanto de sagrado há no profano e o quanto de profano há no sagrado? O certo que este somente se torna compreensível ao homem quando este se manifesta.

Manifestação do sagrado: Dois modos de ser no mundo

Quando observamos a história à manifestação do sagrado torna-se algo quase que tão presente como algum grande evento político. No momento em que se funde o ferro e que este novo material traz modificações no modo de vida, surgem novas maneiras de lidar com a agricultura, e consequentemente revoluciona as indumentárias bélicas. Esta nova tecnologia ganha também seu caráter simbólico. Outro exemplo seria o meteorito que caiu do céu e depois veio a ser a famosa "pedra negra", que hoje fica na Caaba, em Meca, cidade sagrada para os islamitas. Mas, se cair um meteoro hoje provavelmente não haja motivos para tal adoração e sim para medo. Quais as relações que estes objetos tem e porque eles têm valor sagrado? Novamente podemos falar que o sagrado é algo que transcende, mas principalmente algo que perde seu significado profano, em outras palavras se sacraliza:

“A pedra sagrada, a arvore sagrada, não são adoradas como pedra ou como arvore, mas justamente porque são hierofanias, porque ‘revelam’ algo que já não é nem pedra, nem arvore, mas sagrado, o ganz andere”
(ELÌADE, Mircea. Pág 13, 1956)

Então a partir disso percebemos que então existem dois modos de ser no mundo, e estes não são apenas objetos de estudo, mas apropriadamente o lugar que tal objeto de coloca no cosmos, qual a posição que o significado se encaixa. Buscando novamente em sociedades tradicionais como os mesopotâmicos, percebemos que sempre o sagrado esteve ligado com o lado religioso. A partir deste espaço define e retira-se o profano, deixando as margens do sagrado. Como Elíade, também não quero entrar nos méritos da questão, mas apenas ressaltar que os simbolismos mudam, de forma que estes tenham significações relevante a esta ou aquela sociedade, como a pedra negra, a cruz cristã, entre outros tantos objetos que ganharam sentido sacro:

“os simbolismos e os cultos da terra mãe, da fecundidade humana e agrária, da sacralidade da mulher etc. não puderam desenvolver se e constituir um sistema religioso amplamente articulado senão pela descoberta da agricultura. É igualmente evidente que uma sociedade pré-agricola, especializada na caça, não podia sentir da mesma maneira, nem com a mesma intensidade.” (ELÍADE, Mircea. Pág 16, 1956)


Esta afirmativa nos leva a crer que os dois modos de “ver” definem os modos de ser no mundo, já que se o modo de ver a terra mãe por sociedades não agrícolas pode não ser profana por total, ou ao menos não é sagrada, por ser desprovida de uma significação transcendente/importância vital. A partir das vivencias, das “situações exitenciais”, define-se o homo religiosus.
A partir do homo religiosus percebemos paralelamente a negação deste caráter sagrado e as permanências de certo tabus e supertições. O homem moderno ou areligioso nega o que transcende, nega a deus, como diria Nietzsche, “Deus morreu”. O homem profano nasce do fim desta roupagem sacra. Mas, por outro lado como já dizia, este homem moderno apenas se “esvazia dos significados religiosos”, embora algumas coisas se mantenham, como festas de fim de ano, batizados, aniversários, ou eventos mais simplórios como orientação da cama dentro do quarto, ou o hábito de agradecer o alimento de cada dia, que não deixam de ter um sentido propriamente diferenciado. Muitas vezes não são tanto as permanências, mas sim as retomadas de certas práticas como o movimento nudista (sonho paradisíaco), ou então adoração das arvores, das águas, que passa por um processo de esgotamento.
Por fim, Mircea passa a idéia que o sagrado é aquilo que provido de significação simbólica traz para o sujeito um tom de sacralidade. Além disso, esta significação simbólica sempre tem um objetivo claro, uma finalidade, embora muitas vezes não possa ser palpável. De certa maneira, uma frase que proferi em sala de aula ainda me tem sentido,
“É sagrado porque foi útil, foi útil porque é sagrado”, já que muitas vezes é sagrado o que teve uma utilidade prática. E por sua vez tem utilidade o que é sacro para unificar e criar uma certa identidade, algo que entrelace a comunidade de uma certa esfera. Mas, daí iríamos para outros questionamentos que por hora não nos cabe aqui ampliar.

domingo, 23 de agosto de 2009

Aeroporto de Hong kong:


Vídeo da Discovery channel, que mostra a mega estrutura do aeroporto de hong kong.
Um projeto que poderia levar anos, durou 7 anos, a transferência de seu pessoal e material durou 7 horas....
o número 7 está presente em Hong Kong...
A maior dificuldade dos habitantes era o intenso tráfego de aviões que deixavam a cidade em um constante perigo de desastres.
O projeto visava a construção de uma ilha artificial, que serviria de base para o maior terminal de pessoas do mundo, além de mais 35 km de rodovias e toda um nova linha de trens a jato. Ou seja, um sistema de pontes, rodovias, ferrovias....
As dificuldades vem desde a época que Hong Kong foi dominado pelos ingleses na guerra do ópio.
O grande problema foi na época de devoluçao para a china em 1997.
Eles tinham que fazer antes destas convulsões socio-políticas que haveriam pela frente.
Assistam e entendam mais sobre este trigre asiático!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Hong Kong 97, o pior jogo de SNES e suas reais intenções



Este jogo com gráficos muito fracos, até mesmo para os padrões do Super Nintendo foi criado em 1995 no Japão. Se deve em gráficos, ele sobra em
polêmicas, afinal o jogo se passa no episódio da devolução de Hong Kong para a China que havia passado desde 1898 nas maõs do Reino Unido.
Além disso, outras questões ficam implícitas e explícitas no jogo, onde aparecem logotipos da Coca-Cola, e seu vilão é nada mais nada menos que Deng Xiaoping, na época atual presidente da China.
Chin o herói do jogo é interpretado por alguém que viveu todas estas questões, que vão desde a Revolução Cultural até os dias de hoje, Jackie Chan. Chin seria contratado para matar os continentais chineses que viriam em busca de prosperidade nesta ilha, logo após seu grande crescimento economico.
Mas, agora que já demos uma passada pelo o que o jogo trata, teremos que entender mais de quem são seus personagens, de como eles entram na História....
Após a Segunda Guerra Mundial, acabou a dominação japonesa de vários territórios chineses, com isso Hong Kong entrou em uma era de grande prosperidade, principalmente a industrial onde teve seus picos no ramos têxtil. Mas, durante a Guerra da Coréia, em 1950, os EUA boicotaram a China comunista, o que afetou Hong Kong. Uma medida usada para ir de encontro a este embargo foi a abundante mão-de-obra, e por consequência grandes investimentos do exterior, que ocidentalizaram mais ainda esta região. O "boom" econômico gerou problemas ao povo local, que geraram inúmeros motins em 1967, realizados pelos membros da Revolução Cultural. A música tema do jogo, I Love Beijing Tiananmen, era tocada na entrada das escolas, juntamente com outros dois hinos O Internationale e O Oriente é Vermelho.

Sua letra dizia:
Adoro Pequim Tiananmen,
Tiananmen do Sol, onde aumentou.
Poderoso Leader Presidente Mao,
Levando-nos a todos para a frente.

Já as outras duas também são hinos de cunho

comunista da República Popular da China:

O internacionale
O sangue que enche o meu peito cozido tem mais,
Temos de lutar pela verdade!
O velho mundo, serão destruídas como caído pétalas

e splashed água,
Ergua-se! Ergua-se, escravos, surgem!
Não diga que não temos nada,
Vamos ser os donos do mundo!
Esta é a última luta,
Unite juntos para amanhã,
A Internationale
Certamente devem

O Oriente é vermelho
O leste é o vermelho, o sol está a nascer
A China tem uma ressuscitados Mao Zedong.
Ele trabalha para o bem-estar do povo.
Hurra, Ele é o grande salvador do povo.

Presidente Mao ama o povo,
Ele é nosso guia,
Para construir uma nova China,
Hurra, ele leva-nos em frente!

O Partido Comunista é como o sol,
Sempre que brilha, é brilhante.
Sempre que existe um Partido Comunista,
Viva, há as pessoas estão liberados!


Durante a Revolução Cultural, houve desavenças do então presidente Mao Tsé Tung, que subiu ao poder em 1949 com o seu grande aliado Deng Xiaoping, que voltou a se entender com ele apenas anos depois.
Mao Tsé Tung, responsável pela Grande Marcha contra o Kuomintang de Chiang Kai-Shek, pela fundação da República Popular da China se tornou um herói para a Nação. Para se ter uma ideia a canção tema do jogo faz também referencia a praça Tiananmen, que nada mais é que um grande centro ao norte da Cidade Proibida, o centro ao Monumento das Pessoas Heróis, onde também fica o Mausoléu de Mao, que morreu em 1976. Apesar de seus hábitos desregrados aos nossos olhos, como não tomar banho, nem escovar os dentes, além de possuir Tricomoníase e herpes genital ele foi o modelo inspirador de toda uma época.
Até hoje continua a rivalidade entre o partido Nacional e o Comunista, sendo que o Kuomintang lidara desde a derrubada da dinastia Quing até 1949, onde os comunistas tomam o poder até não mais largar. Os Nacionalistas hoje residem em Taiwan.
Voltando para Xiaoping, durante os anos 70 ele reaproximou-se de Mao, onde após alguns anos de desavenças tornou-se o seu sucessor. Em 1976 repudia a revolução cultural, passando a ser muito mal visto por Hong Kong, logo lança a Primavera de Pequim. Ele que deu "dentes" ao dragão chinês e pôs como uma das mais fortes economias do mundo.
Com ele houve a abertura diplomática e a criação de zonas para incentivos fiscais. Com uma política inversa a da URSS, ele modernizou e deu bases a China. Abandonou o poder em 1992, morreu em 1997.
Para terminar o jogo feito por japoneses, em uma ano chave para Hong Kong, 1997, foi marcado pela sua quase independência e pela morte de um agressor ao movimento que deu melhores vidas aos moradores da ilha.....detalhe Jackie Chan teria aceitado participar com sua imagem, porque é de Hong Kong, e porque pela tamanha miséria da época, quase acabou vendido para um casal britânico......??????
São questões que apenas o próprio Jackie pode nos responder, mas que inúmeras mágoas deste episódio ainda vivem, isto é fato.
O jogo apenas demonstrou a rivalidade vigente entre Hong Kong e China, entre comunistas e nacionalistas e etc.....dois países dentro de um.

Link do jogo em rom para jogar:
http://www.rom-world.com/file.php?id=39966

Link do Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=k9_ITa5T6zc

sábado, 8 de agosto de 2009

Exposição do Egito - Museu Intinerante em Rio Grande


Em breve postarei as inúmeras fotos que tirei da exposição que visitei em Rio Grande, sobre o Egito Antigo, que foi mostrada a partir do dia 4 de agosto de 2009, pelo museu intinerante egípcio.
As réplicas contam a milenar História egípcia através de um show de luzes e cores, que passam obra a obra as maravilhas deste povo incrível que habitou as margens do Nilo e é famoso por obras como as pirâmides, pelas múmias, pelos papíros, entre outros nomes que ainda hoje habitam nosso imaginário e cotidiano.
Esta exposição ímpar, que encerra-se na primeira quinzena de setembro, ainda tem como possíveis destinos Caxias do Sul, Porto Alegre e a maior em São Paulo. Com preços acessíveis a procura tende a aumentar na cidade em que muitos reclaram não ter nenhum incentivo a cultura.
Em breve disponibilizarei as fotos e os vídeos que fiz nessa exposiçaõ, tendo de quebra um pequeno estudo sobre a História e cultura egípcia

domingo, 2 de agosto de 2009

Celtas: As magias de um povo milenar





Vendo hoje um dvd sobre os celtas, este povo magnífico e intrigante que povou inúmeras regiões incluindo partes da Inglaterra, Irlanda e Escócia, percebi algumas coisas que gostaria de compartilhar.
Em primeiro a maravilhosa lenda do Monstro do Lago Ness.
Os Celtas acreditavam que as águas eram uma espécie de passagem deste mundo, para outros mundos sagrados e eram guardados por criaturas sagradas, monstros...Evidentemente em uma época anterior (beeeem anterior ao cristianismo). Mas, sabemos que esta lenda se popularizou nos EUA.
Além dos seres mitológicos temos inúmeros achados arquitetônicos como o Stonhehage, que inclusive não é Celta, mas sim, de um povo até então desconhecido que seja provavelmente um antecessor dos primeiros. O Stonhehage era usado para fins religiosos, evidentemente também tiveram inúmeras lendas envolvidas, em sua maioria lendas sexuais. A sexualidade era um dos temas recorrentes na cultura Céltica, tendo exemplos de casos de deuses e mortais, traições entre outros casos que serão explanados. Newgrange era um destes monumentos onde a sexualidade foi o norte. Nesta lenda um deus tinha a intenção de morar na Newgrange, mas, havia um empecilho, um casal já morava lá. Com seus poderes e esperteza o deus mandou o bom homem em uma missão para poder ficar a sós com sua esposa. Como era o deus do sol e da lua fez como que essa missão de um dia demorasse na verdade nove meses, tempo onde pode ter seu filho com a mulher deste bom homem.
Outra lenda é contada desde a Idade Média, tendo inúmeras releituras é Tristão e Isolda, lenda, aliás, que serviu de inspiração para Wagner compor uma de suas mais belas opéras. A história que já foi ópera, poesia, conto e arte romântica em geral relata um amor entre um bretão e uma irlandesa, e a rivalidade vigente entre estes dois reinos antagônicos. Inclusive a um filme, que ainda vou postar algo mais detalhado, que se chama Tristão e Isolda, e conta muito bem a lenda.
Encerrando, chamaria atenção para um detalhe (dos tantos que gostaria de falar...) a questão simbólica. Existia um animal sagrado, na verdade dois, eram estes o porco e o javali. A sua veneração e adoração eram tamanhas que existiam sacrifícios inúmeros em homenagem aos animais, bem como miniaturas em bronze que são únicas no mundo e riquíssimas em detalhes. Tanto é que a lenda do “triângulo amoroso”, de Dairmaird, Fionn e Grainne, acabou de forma trágica para um javali, que com um golpe poderoso de suas presas matou Dairmaird que tentava caça-lo para seu consumo e de Grainne, que há 666 dias estava fugindo da ira do marido trocado e líder guerreiro de seu povo Fionn. Entre as inúmeras contribuições deste povo que nunca obteve a unidade, fica apenas as lendas e achados arqueológicos.

Ao terminar de escrever este post, questões me fazem refletir e concluir:
1) O monstro do Lago Ness aparece muito nos quadrinhos da Disney, nas histórias de Tio Patinhas, que é escocês...
2) O número de dias que Grainne e Dairmaird fugiram virou um número místico, considerado um número do mal...

domingo, 17 de maio de 2009

Tráfico Africano: Causas e Conseqüências de um infame Comércio



Resumo: Neste pequeno artigo trataremos de como os movimentos de trafico negreiro ocorreram, que rotas utilizaram, quem vendia, quem comprava, ou seja, todas as significações da escravidão negra em África, Américas, e em especial no Brasil.
Será tratado por um viés histórico e antropológico, visando analisar as influências que esse tráfico e conseqüente imigração de negros para o Brasil causou para a política, economia e cultura de nosso país.


Abstract: In this short article on how to deal with movements of the slave trade occurred, which routes used, who sell, buy, or all the meanings of black slavery in Africa, Americas, and particularly in Brazil.
Will be treated by a historical and anthropological bias, to examine the influences that trafficking and consequent migration of blacks to Brazil led to the politics, economy and culture of our country.




V

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

( Trecho de “Navio Negreiro”, Castro Alves)


Ao lermos na escola muitas vezes não temos idéia do que Castro Alves está dizendo, ou então sabemos muito por superficialmente, apenas o que os pais falaram ou os professores, mas não sabemos realmente o que foi este processo tráfico negreiro e escravidão.

História do tráfico Saariano
“A escravidão sempre existiu desde a antiguidade, onde os vencidos na guerra ou infratores de certas leis perdiam a liberdade. Segundo a Bíblia, os judeus sofreram diversos ‘cativeiros’ no Egito e na Babilônia. Entre os gregos, romanos e posteriormente, bizantinos e mulçumanos, os escravos adquiriram alguns direitos, como possuir dinheiro e propriedades, assim como herdar e transmitir herança; casar legalmente; comprar a própria liberdade ou a de terceiros, desde que possuíssem a quantia necessária; e não raras vezes ocuparam altos cargos administrativos e políticos, ou alcançaram destaque no meio cultural” (RODRIGUES, 1978, p.86)

Mas, essa situação mudaria totalmente, caminhando para um sistema jamais visto na historia. Para iniciar nosso estudo podíamos dizer que a palavra “escravo” deriva de eslavo, tal foi a difusão da venda deste povo pelos italianos de Veneza e Gênova. Como se sabe as práticas de escravizar tiveram diferentes facetas durante os tempos, começando em épocas muito remotas.
Como cita Ki-Zerbo, “Deve-se salientar, antes de mais nada, que o tráfico de escravos não foi uma operação premeditada.” (KI-ZERBO, 1999, p.262). Para iniciar, falaremos do tráfico saariano. Este basicamente empregado pelos árabes islâmicos logo após sua chegada a África e sua tentativa de islamização dos povos pagãos, logo ganhou importante peso econômico, através do comércio de armas de fogo, ganhando caráter estritamente comercial. Seu inicio se deu em meados do século VII.
A escravidão é recorrente entre os povos mulçumanos, mas apenas com outras povos, sendo proibida a venda de islâmicos. Até por uma questão cultural e econômica, os povos mulçumanos não achavam interessante o trabalho escravo, já que escravos não pagariam tributos. O Egito a partir do ano 1000, Marrocos, Arábia e após no século XVII a Turquia aderiram a essas trocas comerciais, que evidentemente não se aproximaram da massa transportada para a América, ou das crueldades tomadas em relação aos escravos, mas também teve real importância. Como diz Rodrigues:
“Partindo das cidades na fimbria do deserto, no correr dos séculos substituíram o ouro e sal pelos escravos e armas de fogo. Podemos identificar quatro rotas principais: uma de Timbuctu ao Marrocos controlada por mouros e tuaregh; outra de Kano a Tunis via Gadamés realizada por tuaregh e ussá; uma do Bornú a Trípoli via Fezzam supervisionada por Beduínos árabes; e finalmente uma do Uadai para Benghazi pertencente aos tubu do Tibesti”. (RODRIGUES, 1978,p.104)

No mundo mulçumano a escravidão era basicamente doméstica, já que eram destinadas as lidas da casa ou então ao serviço militar. Em Meca, a maioria a ser vendida era mulheres, que ainda eram mais valorizadas se fossem mais próximas da coloração branca. Na administração turca os eunucos que ganharam papeis de destaque e cargos altos, até mesmo pelo fato de serem impedidos de acumularem riquezas. Mas, como começou toda essa rede de mercados? Os povos em estágios mais avançados geralmente passavam pela escravidão, e isso não se resume a áfrica, mas também a Ásia e América, somente com nomes e modalidades diferentes. Numa das rotas de fluxo de escravos, a de Tumbuctu, este comércio já era praticado e os escravos de Mali eram brancos. Na África, porem a visão de escravo era diferente, sendo que muitas vezes eles podiam integrar a família, possuir bens, direitos civis, tinham que pagar tributos e até mesmo substituir o seu patrão, em caso de falta deste. Alguns escravos chegaram a ter escravos, o que para o modelo americano seria impossível. Mas, como diz bem Ki-Zerbo, é ridículo acreditar que os europeus criaram o sistema, assim como na América, onde a forma de trabalho compulsória da Mita e do repartimiento foi adaptada para apenas mudar as mãos de quem recebia os serviços, agora ao invés do Inca, era a Coroa de Espanha que podiam desfrutar de seus serviços e no caso africano, os paises ibéricos. França e Inglaterra somente algum tempo depois mirariam em África. Agora, os europeus com seus pequenos portos e fortes tentavam negociações e alianças, estamos em meados de 1600.

O trafico Transatlântico: Negros chegam as Américas
Portugal lidera as explorações em África, tanto nas possessões de ilhas, quanto nas alianças no continente. Depois de derrubar a concorrência holandesa, herdaram de vez a Costa do Ouro, perto do forte Elmira. Os holandeses haviam abocanhado Elmira e Luanda, como reserva humana para uso de escravos em sua Guiana (Suriname), e no nordeste brasileiro recém-conquistado. Com a vitória portuguesa diante da Companhia das Índias ocidentais1, a coroa recuperou estes dois fortes.
França e Inglaterra somente mais adiante tomariam interesses pela África. No começo o transporte de negros foi para Lisboa e outras partes da Europa, mais como trabalhadores domésticos, assim como os árabes já faziam desde o século VII. Com a colonização da América, permitiu-se a pratica do plantation2, tropical e monocultural e os portugueses vislumbraram promover a produção do produto mais valioso da época, o açúcar. Para trabalhar tamanhas terras seria necessária mão-de-obra. E após algumas tentativas frustradas com os povos indígenas (excetuando aos povos andinos onde já haviam sociedades mais organizadas hierarquicamente e com trabalho compulsório) e a grande oposição da escravidão nativa por parte da igreja, os portugueses no Brasil e ilhas do Caribe; os ingleses na Jamaica, Barbados, Bermudas, Granada, Caribe; os espanhóis, com maioria das Américas; franceses e até dinamarqueses queriam a hegemonia por esse mercado. Sobrou para os africanos este trabalho, já que eles tinha a pratica da metalurgia, mineração e agricultura, além de maior resistência física. Mas, como trazer esses homem escravizados agora, para as Américas? O método mudou muito de região a região. Os paises europeus também não seguiram uma forma uniforme de permuta, sendo que alguns paises criaram grupos comerciais, como a Companhia das Índias Ocidentais (Holanda), Real Companhia Inglesa (Inglaterra). Muitos se usaram de suas possessões e feitorias para promover trocas com os soberanos locais, se usando de suas bugigangas para efetuar o comercio.
Mas, perto de 1700 o poderio europeu ainda era bem limitado. Com a chegada dos anos próximos a 1800, e após essa data o trafico atingiu níveis jamais vistos:
“segundo um relatório do Ministério dos negócios estrangeiros do Império do Brasil, em 1853, foram desembarcadas, apenas no Rio de Janeiro, entre 1840 e 1845, cerca de 120.000 africanos; nos cinco anos seguintes, o numero foi 220.000. Note-se nessa época o trafico era ilegal e restrita ao sul do Equador.”(RODRIGUES, 1978,p.89)

Mas, a partir do século XVIII, a Europa está mudando. Os interesses não correm em conjunto com a escravidão. Filósofos franceses como Voltaire3 se opõe. Na Inglaterra em 1772, todos os escravos foram libertos, num total de 15.000 negros do subúrbio de Londres e Liverpool. Mirabeau, após a libertação de escravos da França em 1789, queria estender para as colônias, mas esta lei foi rechaçada pela Assembléia. Em 1794, o retorno da escravidão promove a Independência (não somente ela, mas foi um dos motivos principais) no Haiti. Nos EUA, somente após 1860 e as complicações da guerra de secessão que a escravidão some das terras americanas oficialmente. A Inglaterra, desde 1817, promove pressões no trafico transatlântico. A primeira foi permitir apenas o tráfico abaixo da linha do Equador. Estava liberada a passagem no golfo da Guiné, entrando Moçambique e outros portos do oceano Indico. Em 1836 o Brasil passa a proibir também o tráfico, mas assim, surgiu o contrabando.
O produto da época, não era o açúcar, mas sim o café. Apenas em 1886 Cuba e em 1888 no Brasil que se acabaram as mazelas da escravidão, mas ficaram todas as marcas que se podia prever. Alguns ex-escravos, alforriados entre 1830 e 1858 (principalmente em na gestão do rei de Daomé, Guezo), tornaram-se traficantes, inclusive de escravos. Mongo John Ormond, Francisco Félix de Souza, sao bons exemplos disso.
Francisco Felix de Souza, Xaxá de Souza, é protegido rei Guezo e até hoje existe uma “dinastia” de xaxás, em Benim (ex-Daomé).

Rotas e Localizações dos Pontos de Tráfico
Em primeiro lugar, as rotas do trafico saariano:
1)Tumbuctu-Marrocos, dos mouros e tuaregh.
2)Kano-Túnis, tuaregh e mossis.
3)Bornú-Trípoli, beduínos árabes.
4)Uadai-Benghazi, tubu do tibesti.
5)Sennar-Kordofan, beduínos e bedja.


Nas Américas:
1)Região Mandinga; Brasil e Antilhas
2)Ashanti, Ibô, Daomé e Benin; Brasil, Antilhas e América do Norte.
3)Luanda e Bailundo; Brasil.
4)Zamzibar; Antilhas e América do Norte.
5)Ambongo; Brasil.


(mapa das Rotas para as América)

Métodos de Aprisionamento

“os métodos de ação eram muito simples. Propaganda psicológica, que fazer crer aos negros, por uma demonstração de forças ou de faustos, que se é o primeiro país da Europa, ou que se desviam os outros negreiros das zonas da costa particularmente interessantes, contando fábulas terríveis a seu respeito. Havia também as viagens pagas á Europa. Foi assim que, depois de fazer chegar ao rei de Ardres um saiote de cetim e chinelas escarlates, o Sieur Delbée organizou a viagem do seu embaixador Mateus Lopes até Paris. (KI-ZERBO, 1999, p.268).

Como eram feitas as capturas na África de escravos? Provavelmente esta pergunta foi feita algumas vezes. As companhias eram as formas mais convencionais, por assim dizer, que eram formas de negociação das partes européias e dos reinos Africanos. O direito foi transferido aos espanhóis, e depois da vitória à armada invencível de Filipe II, os ingleses. Os portugueses que nunca tiveram grandes navios ficavam fora destas negociações. Além de negros estes cargueiros vinham com outros tipos de produtos, dos mais variados tipos.
“Não se deve também esquecer de fazer os negros gargarejarem com sumo de limão ou com vinagre, para evitar o escorbuto” (KI-ZERBO, 1999, p.271).

Havia também o trafico por cabotagem, que nada mais era que o assalto a navios cargueiros, por outras filiações ou bandeiras nacionais. Os franceses que não possuíam instalações legais se valiam seguidamente deste método. O trafico tinha apoio quase que absoluto das forças africanas, e servia de escambo para obtenção de armas de fogo e outros produtos que dessem soberania interna a esses reinos.

Tráfico entre Brasil e Angola: A população bantu
Um dos maiores centros exportadores de escravos foi Luanda, e por conseqüência ótimo desenvolvimento no país, já que sua população dobrou de 1845 a 1850 (de 5000 pessoas para 12000). Benguela foi outro escoadouro importante, assim como Cabinda e Loango.
Aqui ocorre verdadeiro monopólio português. Quase todos os navios partem para o Rio de Janeiro. E depois, com os embargos ingleses, o movimento apenas aumentou, apenas extinguindo em 1860. Ndongo, Manicongo, Benguela eram todas de Portugal.
“O tráfico ocupava o primeiríssimo lugar entre as atividades econômicas, e mesmo a produção alimentícia era insuficiente. Para conseguir o número de prisioneiros desejado, o governo local impunha uma taxação sobre a aldeia – que podia ser paga em escravos. Os “pombeiros” (mercadores mestiços) estimulavam guerras entre os povos do interior para a obtenção de cativos. A própria Igreja Católica obtinha lucro desta atividade desumana: e o bispado local recebia uma quantia por indivíduo.” (RODRIGUES, 1990, p.117) .

Portugal ainda tinha grande parceiros como Lundã. Mas, somente no século XIX Portugal conseguiu eliminar os intermediários e comerciar diretamente com Angola e Congo. Após inúmeras batalhas e acordos com Manicongo, Ngoiô, Matamba e Cassanje respectivamente, começa um comercio mais direto com Angola e Congo. Angola era muito mais ligada ao Brasil que a Portugal, por exemplo. Com a independência do Brasil em 1822, Angola teve grande intenção de se anexar ao Brasil. Isto dificultou o reconhecimento de Portugal, já que ia de encontro a seus interesses perder as possessões na África. A Abolição feita em 1836 foi ignorada por muito tempo. Assim como Lagos, Daomé foram centros de vinda de iorubas para o Brasil e principalmente para a Bahia, Luanda foi o centro de vinda de escravos Bantus para o Rio de Janeiro e Porto Alegre, embora haja grupos misturados nos estados.


Conseqüências da permuta Humana: África, Europa e América.
África:
Alguns historiadores europeus dizem que as principais mudanças dos anos pós-escravidão foi às migrações e mudanças de populações internas e externas, ou seja, o chacoalhar do continente, misturando várias etnias em vários locais. Outra conseqüência bem interessante foi à sumária transposição de culturas como o milho, a madioca, o tabaco, ou seja, produtos que não havia na África e sim na América. Para se ter uma idéia certos autores (não citados por Ki-Zerbo), defenderam que o tráfico interno, ou seja, o árabe fez muito mais estragos na África, tendo mais gente sido arrancada de suas terras.

Europa:
Com os lucros do tráfico negreiro, que chegaram até 800%, os europeus deram o boom que precisava para investir nas indústrias. A escravidão serviu de alimento de mercado europeu.

América:
Nas Américas, temos várias conseqüências, tanto culturais, econômicas, e sociais. Hoje devemos várias coisas a influencia negra, em nossa alimentação, em nossa arte, etc.
A cultura do Rio Grande do Sul se encheu de práticas africanas, e por mais estranho que pareça, de mais práticas yorubás que Bantas.
Até a religião afro, permaneceu na América. Com a escravidão temos mais uma “raça” agregada as outras duas que formam o Brasil.








Bibliografia
RODRIGUES, João Carlos. Pequena História da África Negra, ed. Globo, 1990.
SILVA, Alberto da Costa. A Enxada e a Lança: A África antes dos Portugueses, 2 edição, ed. Nova Fronteira, 1996.
KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra, 3 edição, ed. Universitária, 1999.

domingo, 12 de abril de 2009

Fotos de Museus riograndinos

Apenas para ver e se vislumbrar...Obras de arte de numerosos artistas locais, mandalas e pinturas de locais visitados por mim, como: Centro de Municipal de Cultura, Sobrado dos Azuleijos, e o Museu de Arte Sacra, do qual não podemos tirar fotos por motivos óbvios. Pretendo mais para frente, publicar postagens sobre cada um deles, aguardem...




Visitas a Victor Graeph



Linda, maravilhosa estupenda. São as palavras que digo pra essa cidade do RS, que em sua praça tem uma arte rara e de grande beleza. Resta-me descubrir que é o Eduard mãos de Tesoura.

Oficinas de Restauração de Acervo e de Planos Museológicos


Aqui algumas fotos sobre mais uma oficina preparatória para a restauração de acervos. Realizada na metade do ano passado (julho de 2008), no campus centro da UFRGS, a oficina ofereceu várias atividades teóricas e práticas, sobre práticas museológicas de conservação e a outra de gestão. Prof carioca Cicero Almeida na oficina de planos musológicos, e Vívian Diniz na oficina de Restauração de Acervo.

Passagens de São João e São lourenço das Missões: Sítios

Aqui fotos das visitas em início de 2008, aos sítios arqueológicos de duas das quatro missões existentes no RS.


Os momentos que marcaram mais foram as partes em que observei a rica arquitetura local, e também, o triste mas real descaso com os sítios sendo que animais pastavam aos redores e no seu interior, além das péssimas armações de ferro postas para sustento e dos cemitérios atuais de indígenas no local.
Quem quiser mais fotos e material sobre as missões na íntegra:
felipecontripaz@hotmail.com