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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Chacara das Rosas: Observações e um breve apontamento Histórico de um Quilombo urbano
Primeiramente, o grupo de pesquisa que foi ao evento teve como meta decorrer sobre um breve histórico a respeito do Quilombo Chácara das Rosas, de sua importância, de suas dificuldades, de sua titulação e reconhecimento, para compreender o contexto em que se realiza a titulação do Quilombo, que ocorre no dia 30 de outubro de 2009.
O objetivo deste trabalho era aproximar a questão do negro em estudo de História do Brasil, através do contato com a questão quilombola e fazer um link com os quilombos e amocambados da época colonial, refletindo sobre a importância destes não só como meios de resistência, mas como modos de ser e viver.
Através de pesquisa por meios midiáticos, como jornais e sítios da internet, buscamos o histórico do quilombo, bem como a divulgação da sua titulação, onde estivemos e registramos através de fotos e observações toda a importância do evento.
Origem do Quilombo
As origens de Chácara das Rosas nascem em um outro Quilombo, que fica na região de Gravataí, e ainda luta por sua titulação:
“A origem da comunidade de Chácara das Rosas remonta a um outro quilombo mais antigo, Manoel Barbosa. Rosa Barbosa de Jesus, fundadora de Chácara das Rosas, era uma das 12 filhas de Manoel Barbosa e Maria Luiza Paim de Andrade, fundadores do quilombo de Manoel Barbosa, localizado em Barro Vermelho, zona rural do municípiodeGravataí.
Manoel e sua esposa, Maria Luiza adquiriram terras em Gravataí nos últimos anos do século XIX. Na época, a escravidão já havia sido abolida e ambos eram ex-escravos. Manoel comprou terras de um antigo senhor de nome José Joaquim Barbosa e, de acordo com a antropóloga Vera Rodrigues e o historiador Vinícius Oliveira (2006), é bem provável que a venda de parte dessas terras tenha ocorrido após a ocupação do território, visando regularizar uma situação já existente. Maria Luiza ganhou o restante das terras de sua antiga senhora e madrinha de nome Isaura.”
Nascida no quilombo de Manoel Barbosa em 1908, Rosa Barbosa de Jesus, deixou seus familiares aos dezoito anos, quando se casou com João Maria Generício de Jesus e foi embora, mas os motivos são desconhecidos. Em 1952, após a morte do marido, fica encarregada de cuidar de seus 12 filhos e manter a produtividade de rosas, verduras e demais culturas cultivadas no local. As terras da chácara das Rosas, podem ter sido obtidas por meios de compra ou doação, com informações ainda contrastantes.
Alguns fatos marcam a história da Chácara das Rosas, um deles é a da horta de Tonho, filho do casal Rosa Barbosa de Jesus e João Maria Generício de Jesus e que deu continuidade às praticas agrícolas que mantinham o local economicamente ativo.
“Tinha eucalipto, tinha árvores frutífera, tinha muita árvore, árvore, árvore, tinha bergamota, tinha laranja, limão, de tudo que tu possa imaginar, mamão, melão, tinha rosa, tinha muita rosa, muita flor, muita flor, tinha canteiros de alface, tanto que o pai vendia assim, aipim, era plantação de aipim, o pai trabalhava a noite, durante o dia e a folga dele ele vendia, ele plantava para vender” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 79).
A Chácara das Rosas passou por um processo de urbanização, juntamente com o próprio município de Canoas, sendo que antes deste processo na própria cidade, o quilombo possuía várias casas esparsas, uma cachoeira entre outras partes que foram aos poucos se espremendo ou desaparecendo.
Isabel Cristina Generício, neta de Rosa e João:
“(...) Eu notei que tinha se avançado assim e o nosso espaço parece que tava meio que diminuindo, eu tinha uns 9, 10 anos. Aí que eu senti a diferença, parece um impacto que deu, uma avalanche, né? Foi bem ligeirinho, foi bem ligeiro, com certeza que é ali no período da minha infância e aquilo foi indo, tu sabe que dava para ti tocar, mais ou menos, tinha um valão aberto aqui, um valão aberto, ali não era valão, era uma cachoeira, a gente tomava banho, água limpinha, aí logo depois teve a invasão da Guajuviras, tinha, quantos anos eu tinha quando deu a invasão da Guajuviras? Acho que uns 15 anos eu acho, daí começou a poluir tudo, o valão começou a poluir, não tinha mais cachoeira (...). É, a evolução foi muito rápida, muito rápida, muito rápida, foi nessa época aí, eu tava com uns 13, 14 anos. Sabe assim, quando o mundo vem com uma rapidez em cima assim, duma cidade que simplesmente, uma caretice, porque interior, sabe? Tanto é que eu até perdi um pouco o sotaque de Canoas” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 100).
Outro ponto relevante é a questão do espaço da religião dentro do quilombo. Na suas origens o catolicismo era predominante, mas tinha clara a presença do curandeiro e da bezendeira. Hoje temos ainda a divisão em evangélicos e religiões de matriz afro-brasileira. A casa de nação “Reino de pai Ogum”, é local da pratica do batuque, religião que existe no RS desde o século XIX.
“A estruturação do Batuque no estado do Rio Grande do Sul deu-se no início do século XIX, entre os anos de 1833 e 1859 (CORREA, 1988a: 69). Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados na região de Rio Grande e Pelotas. (...) Os rituais do Batuque seguem fundamentados, principalmente das raízes da nação Ijexá, proveniente da Nigéria, e dá lastro as outras nações como o Jejê do Daomé, hoje Benim, Cabinda (enclave angolano) e Oyó, também, na região da Nigéria. O Batuque surgiu como diversas religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil, tem as suas raízes na África, tendo sido criado e adaptado pelos negros na escravidão” (Wikipédia apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 87-8).
E segundo o coordenador da casa
“Nós temos um lado da Cabinda o qual eu vou pro chão, faço festa, faço mesa pras crianças. (...) É bonito, é bonito, quando tu vem, não tem nada de diferente, tu corta uns bichos que o sacrifício pros Orixás, uma coisa que veio da África, que a gente segue daí, faz uma mesa linda pras crianças, recebe os convidados, os outros irmãos que também vêm da religião. O que tem de mal nisso? Não tem nada! Toca um batuque, começou, acabou, no final aquela comilança, aquela alegria (...) Eu adoro, quando é pra ver o fervo, criançada e faz mesa lá dentro, as gurias correndo aqui, se empenham naquilo. Eu não vejo nada de mal!” (apud RODRIGUES e OLIVEIRA, 2006: 88).
O processo de reivindicação está sendo promovido desde meados dos anos 2000, tendo como objetivo a titulação dos 3.619,44 metros quadrados de seu território. Em 2005, o Incra regulariza a fundição do local e em fevereiro de 2008, o relatório técnico é publicado e agora era questão de tempo para a Titulação. Hoje, localiza-se no bairro de classe média alta de Canoas, Marechal Rondon.
O nome da comunidade decorre de uma prática muito valorizada entre seus moradores: o cultivo de rosas. Rosa Maria de Jesus, fundadora do quilombo, gostava muito de plantar roseiras. No passado, as rosas embelezavam o território da família e sua comercialização foi mais uma fonte de renda para os quilombolas de lá.
Observações sobre a titulação
Os graduandos de História do centro Universitário Unilasalle, Felipe Contri, Luis Fernando e Sergio Marques foram ao evento de titulação do Quilombo Chácara das Rosas, primeiramente para prestigiar as importâncias deste evento para consciência negra e para a comunidade quilombola e em segundo lugar para aprofundar os conhecimentos já adquiridos nas aulas da disciplina de Brasil I, ministrados pela Professora Elsa Avancini, que tem uma ampla pesquisa vinculada ao mestrado em Memoria Social e Bens Culturais da própria Faculdade. Ao primeiro momento que chegamos na escola onde a titulação ocorreu percebemos um sentimento de extrema alegria e felicidade dos moradores, mas principalmente o de justiça. O evento contou com a participação das 24 famílias descendentes de Manoel Barbosa, negro que lutou na Guerra do Paraguai e que residiu no Quilombo Chácara das Rosas. Para o presidente do Incra Rolf Hackbart “A titulação é a carteira de identidade da terra. Sem ela, não se realiza a conquista de outras políticas”. Algumas famílias ainda estão cadastradas no projeto Minha casa, minha vida do governo federal e ainda vão receber moradias novas. O evento contou com inúmeras outras comunidades que vieram e inclusive demoraram a achar o acesso ao local. Por fim, gostaríamos de ressaltar que este trabalho teve mais basicamente elucidar o valor deste marco para a História Canoense e gaúcha, bem como para a História afro-brasileira. Foi o reconhecimento de uma realidade existente, foi o “desabrochar” de uma rosa que ansiava por ver pela primeira vez o sol, sentir o calor e a energia deste e um quem sabe um dia dar origem a belos frutos.
Referências:
Canoas: para lembrar quem somos (livro Vinculado ao Mestrado MSBC)
http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/brasil/rs/rs_quilombosurbanos_chacaradasrosas.html
http://www.cpisp.org.br/terras/
http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias-do-site/indios-e-minorias/mpf-rs-comunidade-de-chacara-das-rosas-pode-se-tornar-primeiro-quilombo-urbano-do-brasil/
Diário de canoas, consultado dia 31 de outubro de 2009.
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