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domingo, 27 de setembro de 2009
Sagrado e profano:As grandes questões envolventes dos dois modos de ser por Mircea Elíade
Introdução
O que realmente define o que é sagrado ou o que é profano? Ou ainda, quem é que define o que é sagrado? Segundo Mircea Elíade, autor do texto que usamos neste pequeno, “o sagrado manifesta se sempre como uma realidade inteiramente diferente das realidades ‘naturais’”. Ora, neste caso podíamos até tentar entrar na questão de diferenciar o que é natural do que é cultural, mas essa discussão será feita posteriormente. O homem então considera tudo que foge de seu alcance de compreensão cognitiva como sagrado, mas talvez a melhor, senão a mais segura resposta seria dizer que o sagrado é tudo aquilo que se opõe ao profano. Mas brotaria desta mais duas questões totalmente relevantes:
O que é profano? E, o quanto de sagrado há no profano e o quanto de profano há no sagrado? O certo que este somente se torna compreensível ao homem quando este se manifesta.
Manifestação do sagrado: Dois modos de ser no mundo
Quando observamos a história à manifestação do sagrado torna-se algo quase que tão presente como algum grande evento político. No momento em que se funde o ferro e que este novo material traz modificações no modo de vida, surgem novas maneiras de lidar com a agricultura, e consequentemente revoluciona as indumentárias bélicas. Esta nova tecnologia ganha também seu caráter simbólico. Outro exemplo seria o meteorito que caiu do céu e depois veio a ser a famosa "pedra negra", que hoje fica na Caaba, em Meca, cidade sagrada para os islamitas. Mas, se cair um meteoro hoje provavelmente não haja motivos para tal adoração e sim para medo. Quais as relações que estes objetos tem e porque eles têm valor sagrado? Novamente podemos falar que o sagrado é algo que transcende, mas principalmente algo que perde seu significado profano, em outras palavras se sacraliza:
“A pedra sagrada, a arvore sagrada, não são adoradas como pedra ou como arvore, mas justamente porque são hierofanias, porque ‘revelam’ algo que já não é nem pedra, nem arvore, mas sagrado, o ganz andere”
(ELÌADE, Mircea. Pág 13, 1956)
Então a partir disso percebemos que então existem dois modos de ser no mundo, e estes não são apenas objetos de estudo, mas apropriadamente o lugar que tal objeto de coloca no cosmos, qual a posição que o significado se encaixa. Buscando novamente em sociedades tradicionais como os mesopotâmicos, percebemos que sempre o sagrado esteve ligado com o lado religioso. A partir deste espaço define e retira-se o profano, deixando as margens do sagrado. Como Elíade, também não quero entrar nos méritos da questão, mas apenas ressaltar que os simbolismos mudam, de forma que estes tenham significações relevante a esta ou aquela sociedade, como a pedra negra, a cruz cristã, entre outros tantos objetos que ganharam sentido sacro:
“os simbolismos e os cultos da terra mãe, da fecundidade humana e agrária, da sacralidade da mulher etc. não puderam desenvolver se e constituir um sistema religioso amplamente articulado senão pela descoberta da agricultura. É igualmente evidente que uma sociedade pré-agricola, especializada na caça, não podia sentir da mesma maneira, nem com a mesma intensidade.” (ELÍADE, Mircea. Pág 16, 1956)
Esta afirmativa nos leva a crer que os dois modos de “ver” definem os modos de ser no mundo, já que se o modo de ver a terra mãe por sociedades não agrícolas pode não ser profana por total, ou ao menos não é sagrada, por ser desprovida de uma significação transcendente/importância vital. A partir das vivencias, das “situações exitenciais”, define-se o homo religiosus.
A partir do homo religiosus percebemos paralelamente a negação deste caráter sagrado e as permanências de certo tabus e supertições. O homem moderno ou areligioso nega o que transcende, nega a deus, como diria Nietzsche, “Deus morreu”. O homem profano nasce do fim desta roupagem sacra. Mas, por outro lado como já dizia, este homem moderno apenas se “esvazia dos significados religiosos”, embora algumas coisas se mantenham, como festas de fim de ano, batizados, aniversários, ou eventos mais simplórios como orientação da cama dentro do quarto, ou o hábito de agradecer o alimento de cada dia, que não deixam de ter um sentido propriamente diferenciado. Muitas vezes não são tanto as permanências, mas sim as retomadas de certas práticas como o movimento nudista (sonho paradisíaco), ou então adoração das arvores, das águas, que passa por um processo de esgotamento.
Por fim, Mircea passa a idéia que o sagrado é aquilo que provido de significação simbólica traz para o sujeito um tom de sacralidade. Além disso, esta significação simbólica sempre tem um objetivo claro, uma finalidade, embora muitas vezes não possa ser palpável. De certa maneira, uma frase que proferi em sala de aula ainda me tem sentido,
“É sagrado porque foi útil, foi útil porque é sagrado”, já que muitas vezes é sagrado o que teve uma utilidade prática. E por sua vez tem utilidade o que é sacro para unificar e criar uma certa identidade, algo que entrelace a comunidade de uma certa esfera. Mas, daí iríamos para outros questionamentos que por hora não nos cabe aqui ampliar.
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